Entrar

    Cadastro

    Notícias

    Colunas

    Artigos

    Informativo

    Estados

    Apoiadores

    Radar

    Quem Somos

    Fale Conosco

Entrar

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigos
  1. Home >
  2. Notícias >
  3. A Justiça, a democracia e a morofobia

Publicidade

Publicidade

Receba notícias do Congresso em Foco:

E-mail Whatsapp Telegram Google News

A Justiça, a democracia e a morofobia

Congresso em Foco

11/8/2016 9:00

A-A+
COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA
Nicson Chagas Quirino * O desalento, a imprecisão conceitual, o relativismo, ou o desconhecimento do processo histórico, estabelecem, de maneira singela e superficial, a construção dos mitos, dos heróis e das catacumbas. Vivemos tempos míticos, em que uma arguta moralidade ortodoxa fixa padrões de comportamento e olhares fincados na sanção, na execração e no opróbrio. Vivemos tempos heroicos, que erigem personagens sensivelmente humanos em arautos de uma única voz de correção e acerto. Vivemos tempos apocalípticos, que enterram biografias, que calam vozes dissonantes e que apelam a um genérico sentimento de "consolação pública". Falamos de Justiça e democracia. É impossível desconhecer a tomada de assalto do Estado (ou pelo menos de sua maior empresa) por um bando de malfeitores. Gente que, por convicção ou caráter, decidiu melhorar de vida à custa do patrimônio alheio. É inegável que um grupo de sindicalistas, antes provectos defensores da igualdade social, tenha se vendido aos bons ventos do ar-condicionado em salas atapetadas, vinhos de boa safra e "misses" internacionais. Claro que tudo isso gera estupor, raiva, desalento. Mas, daí, defender o atropelo das instituições, hauridas de séculos de dialética social, é medida incorreta, tanto quanto os crimes cometidos. Não é usurpando prerrogativas de uma condição humana afeita à dignidade, à ética e à legalidade que venceremos. O certo é que o encarceramento de uns poucos a qualquer custo não elide nem desenrola o nó cultural e civilizatório que nos amarra. Os prisioneiros não são apenas produtos da prevista impunidade. São frutos da oportunidade. De pronto: o que importa não é a lei, mas sua ausência. Explico: todos os atores, sem exceção, valeram-se de uma lei ou de um regime de licitações cujo pretenso rigor normativo somente levou a uma consequência: a promiscuidade. Ante uma legislação esquizofrênica, incapaz de alcançar o resultado que pretende, é melhor sua ausência. Outro exemplo contundente é a Lei da Ficha Limpa. Bela e rigorosa, produziu o quê? Não nos esqueçamos: tantos os executivos quanto os políticos envolvidos passaram sob seu crivo. Então, o embaralhamento dos conceitos é outro problema. Justiça e Curitiba não é a mesma coisa. Democracia e mídia, também não. Quem discutirá a eficácia e a eficiência da Lava Jato? Entretanto, seu roteiro bem-sucedido nos entrega ao perigo de que os "mocinhos", ao mirarem os "bandidos", acabem por destruir a cidadela, feito bang-bang italiano. Calma, o santo é de barro! Há razões para crer que doleiros e suas amantes, "filhinhos de papai" empreiteiros e bêbados errantes em Brasília nos fizeram muito mal. Contudo, estamos na oportunidade de extirpá-los sem fissuras ao arcabouço sociológico que até aqui nos trouxe; e a pior das escolhas seria a reedição de processos inquisitórios que matam bruxas e a um só tempo erigem mártires. Por este mesmo ângulo, o espetáculo da imprensa acerca do tema preocupa. Preocupa porque intimida. Impõe-se como miragem de uma avassaladora unanimidade contra a qual somente os infiéis reagiriam. Dizem que o protagonismo do Judiciário veio em boa hora. Mas sob que pesos e medidas? Provocado, reage, mas sob que impulsos? O legislado, o interpretado, o vivido? É preciso que o jurídico e o político se afastem. Passou despercebida uma lição do relator da Lava Jato no Supremo: "O juiz não pode gerar o conflito". Compete a ele desbastá-lo. No campo do relativismo vale tudo. Vale diretor da Petrobras míope, vale senador envergonhado, vale deputado surfista, vale a hipocrisia que nada sabe. E o conjunto, quando autenticado, produz manchetes e contornos irrefutáveis. O pior, entretanto, é a técnica jurídica substituída por algo inominável, cuja aproximação chamaria de genéricos "fundamentos profiláticos", os quais, sozinhos, justificam prisões e solturas; foros e prerrogativas; nomeações e demissões. Ilustre-se o descalabro: uma liminar é contestada porque seu prolator foi flagrado numa manifestação na Esplanada dos Ministérios; um ministro de tribunal superior é contestado porque se deixou fotografar no Palácio Presidencial, a libertação do contraventor Carlinhos Cachoeira é contestada porque desembargadores ousaram ter em seus laços de amizade advogados cariocas. Enfim, tempos amargos, cuja primeira vítima é a Ciência do Direito. É por isso que o velho conhecimento da história recomenda a prudência e a temperança. A arte de furtar, o farisaísmo, o egoísmo, a sede de poder não são invenções brasileiras e corroem boa parte da humanidade ao longo dos séculos. Sobretudo, uma leitura pendular do percurso histórico e político é recomendada. Extremos são maus conselheiros: a guilhotina do terror plantou o autocratismo napoleônico; entre nós, o "mar de lama" lacerdista facilitou o caminho para os tanques de 64. Alto lá! Lembranças tão-só. Aviso para evitar o improviso. É de Leon Bloy, escritor francês, a célebre frase: "Só há uma tristeza: a de não ser santo". Retrato de nossa amargura cotidiana de sempre visitarmos a imperfeição. Mas, ao mesmo tempo, síntese da aspiração genuína de esperança. Bloy, católico fervoroso e aguerrido polemista, ao fim da vida chegou a desacreditar na democracia. Algo, certamente, que não nos aflige é essa descrença. Porém, diante do que temos visto, é inevitável concluir que não devemos ter medo de Sergio Moro. Devemos temer a nós mesmos. * É advogado e jornalista. Mais sobre Sergio Moro Mais sobre a Operação Lava Jato
Siga-nos noGoogle News
Compartilhar

Tags

STF Justiça democracia corrupção advogados direito Fórum Sérgio Moro

Temas

Corrupção Justiça

LEIA MAIS

dinheiro público

PF mira desvio de emenda parlamentar que iria para hospital no RS

Redes sociais

Moro e Mario Frias batem boca: "seu merdinha" x "palhaço"

Corrupção

PF diz que deputado do PL envolveu familiares em esquema de desvio de emendas

[Erro-Front-CONG-API]: Erro ao chamar a api CMS_NOVO.

{ "datacode": "NOTICIAS_MAIS_LIDAS", "exhibitionresource": "NOTICIA_LEITURA" }

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigosFale Conosco

CONGRESSO EM FOCO NAS REDES