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Congresso em Foco
6/9/2016 | Atualizado às 10:00

Na época dos índios, segundos os pesquisadores, havia água abundante na região. Acabaram a água e as capivaras; proliferaram-se os veados.
Ilha de modernidade em meio ao mato
O aeroporto é moderno, mas parece uma ilha em meio à caatinga que circunda os arredores de São Raimundo Nonato. Uma cerca de arame farpado impede parcialmente a entrada de visitantes.
Nos arredores, o mato e a sujeira tomam conta; a entrada que daria acesso ao piso superior está interditada, uma vez que a Esaero, empresa que administra o aeroporto, tenta há dias instalar uma tela de proteção para impedir a entrada de pássaros, que acharam ali abrigo do sol e do forte calor do interior piauiense.
A Esaero não tem autorização para prestar informações ou mesmo para cuidar definitivamente do local. Embora a obra esteja concluída, a empresa construtora ainda não a entregou ao Governo do Piauí.
A construtora se chama Sucesso e alega que o Governo do Piauí lhe deve, e que já entregou a obra ao estado. A empresa pertence à família do ex-senador João Vicente Claudino (PTB), que cumpriu mandato de oito anos e, depois, retirou-se da política. As construtoras Sucesso e Jurema – esta, pertencente a outro grupo político, a família Castro, do deputado federal Marcelo Castro, ex-ministro da Saúde no governo Dilma Rousseff – são as campeãs de licitações no Piauí.
Praticamente todas as grandes obras do estado são tocadas pelas duas. Nas obras do aeroporto de São Raimundo, a Sucesso foi cobrada pelo Ministério Público Federal no estado por prejuízo de R$ 8,7 milhões. Na obra, por exemplo, a Sucesso não construiu o tamanho da pista acordado em contrato e utilizou materiais de qualidade ruim, comprometendo a vida útil da pista de poso.
À Esaero o Governo do Piauí paga R$ 1.777.892,52 por ano. A empresa deve empregar no mínimo 22 pessoas, mas no local trabalham apenas 17 nos serviços de vigilância, agente de pátio, gerência de operações, segurança e serviços gerais.
O visitante ou turista que precise, por exemplo, fazer um lanche no aeroporto está impedido. Na única lanchonete do local há apenas uma geladeira, nada mais.
Nacional
O aeroporto é internacional no nome e no papel, e nessa condição deveria receber voos das principais empresas aéreas do país, bem como facilitar a chegada de turistas ao Parque Nacional Serra da Capivara, declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, em 1991, devido à concentração de sítios arqueológicos.
[caption id="attachment_260028" align="alignleft" width="390" caption="Estrutura do aeroporto se restringe à área construída"]
A arqueóloga Niède Guidon, responsável pela criação do parque em 1979, doou mais de R$ 100 mil para apressar a conclusão do aeroporto. Ela afirma que o terminal chegou tarde demais e, apesar de estar funcionando, ainda não favoreceu o aumento de turistas.
“Serra da Capivara recebe 25 mil turistas por ano. Patrimônios da humanidade em outros países recebem cinco milhões por ano”, lamenta.
A arqueóloga explica que os turistas chegam ao parque pelo aeroporto de Petrolina (PE), a 350 km, mas as estradas são péssimas. Há cada quatro anos, sempre às vésperas de eleições, é comum os políticos citarem a situação dos cerca de 40 km entre Dirceu Arcoverde, no Piauí, e Remanso, na Bahia.
Penúria
Ao longo dos quase 20 anos de construção do aeroporto, com paralisações, o parque Serra da Capivara foi perdendo turistas e se degradando pela carência de recursos. Segundo Niède, dos 270 funcionários que existiam no parque, hoje restam apenas 30 e todos já estão sob aviso de serem demitidos, porque o governo federal interrompeu o repasse de recursos.
De 28 guaritas, postos de segurança no interior do parque, apenas quatro estão funcionando. Dos cinco carros outrora utilizados para percorrer a região e fazer manutenção restam apenas dois. O sítio arqueológico recebia doações de diversas empresas brasileiras, incluindo a Petrobras, que dava R$ 1,6 milhão por ano. Com a crise decorrente do petrolão, a estatal prometeu doar R$ 800 mil em 2015. Mas se passou um ano e nada do dinheiro.
Já o aeroporto, obra faraônica, corre o risco de se tornar um veado branco em meio à escaldante caatinga. Caso uma solução não seja encontrada, nenhuma empresa aérea conseguirá se manter operando entre São Raimundo Nonato e Teresina sem receber subsídios do governo estadual.
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