Defensor da União sobre veto a Djokovic: Austrália foi pior que Hitler
Fala sobre tenista sérvio Novak Djokovic ocorreu quando DPU decidiu instituir a exigência de vacinação para acessar qualquer de suas unidades
Congresso em Foco
17/1/2022 | Atualizado às 18:03
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Foi animada, pra usar um adjetivo suave, a reunião do Conselho Superior da Defensoria Pública da União (CSDPU) na última sexta-feira (14). O colegiado decidiu instituir a exigência de vacinação para acessar qualquer unidade da Defensoria Pública da União (DPU) - veja no final do texto a íntegra da resolução aprovada.
Mas a decisão foi antecedida por cenas de conflito aberto entre os defensores da União. O momento mais acalorado ocorreu depois que o defensor Jovino Bento Júnior, contrário à medida, fez uma comparação favorável a Adolf Hitler ao analisar o comportamento do governo da Austrália em relação ao tenista número um do mundo, o sérvio Novak Djokovic.
Se estiver com pressa, entre logo no vídeo acima e veja os principais trechos da discussão. Ou então você pode seguir comigo mais algumas linhas e assistir ao vídeo depois.
Djokovic, você sabe, foi impedido de participar do Australian Open, um dos principais torneios de tênis do mundo, por se recusar a tomar vacina. Não foi um procedimento isolado contra o atleta. É o que o governo australiano exige de todos os estrangeiros, assim como faz um número crescente de nações. Sendo Djokovic quem é, porém, a história rendeu horrores. Terminou no último fim de semana, com o veredito final da Justiça confirmando o direito do governo de lhe negar entrada. E Djokovic, claro, se tornou um símbolo do ativismo antivacinas nestes tempos de covid-19.
Palavras literais de Jovino: "Nem Hitler fez com Jesse Owens na Alemanha o que o governo da Austrália está tentando fazer com Djokovic. E é exatamente isso. Jesse Owens foi aquele negro que ganhou quatro medalhas olímpicas nas Olimpíadas de 1936, em Berlim, né, tudo sendo assistido por Hitler. E Hitler não o impediu de competir, de entrar no país, como começa a se ver hoje nos países".
Reação do conselheiro Antonio de Maia Pádua: "Não se pode admitir que alguém acorde cedo, se prepare, ponha um terno e uma gravata para vir elogiar a conduta de Hitler perante o Conselho Superior da Defensoria ou qualquer outro lugar! Ou qualquer outro lugar! Não... nada que venha dali é paradigma, é exemplo, é algo a ser imitado. Nada!"
Jovino ficou conhecido após acionar judicialmente a rede de lojas Magazine Luiza por ter aberto um programa de trainee destinado exclusivamente a jovens negros. A sua tese jurídica foi rechaçada pela DPU e pelo Ministério Público Federal (MPF), mas também o levou a colher manifestações explícitas de simpatia. Teve, por exemplo, a solidariedade de vários parlamentares bolsonaristas após denunciar ter sido vítima de ameaças de morte por causa da sua atuação no caso. E nota de apoio do MP Pró-Sociedade:
NOTA DE APOIO ao Defensor Público Jovino Bento Júnior pela coragem de lutar contra o sistema propondo ação judicial contra o preconceituoso programa de trainee do Magazine Luíza que faz distinção entre seres humanos negros, brancos, amarelos etc.
Você não está sozinho Dr. Jovino! pic.twitter.com/FEmwAHbOdZ
Ele disse, durante a reunião do CSDPU, que não se vacinou por ter descoberto recentemente que não pode tomar a vacina contra a covid. Enquadra-se, conforme afirmou, na situação de "grupos com contraindicação à vacina". Relata ter se encontrado em 12 de janeiro com o secretário-executivo adjunto do Ministério da Saúde, Alessandro Glauco dos Anjos de Vasconcelos: "Ficou muito clara a posição do Ministério da Saúde contra a vacinação obrigatória".
O defensor e outros membros do DPU também foram autores de uma representação, formalizada no último dia 7, para que o Ministério da Saúde informe a população sobre os riscos das vacinas. "É um direito de todo cidadão, todo consumidor", justificou.
Autor da proposta afinal acatada pelo CSDPU, o defensor da União Ricardo Russel Brandão Cavalcanti enfatizou que são óbvios os benefícios trazidos pelas vacinas, que elas oferecem riscos mínimos e que a exigência de vacinação tem amparo na ciência e já é feita por diversos tribunais e órgãos públicos brasileiros.
Veja a íntegra da resolução aprovada pelo Conselho Superior da DPU:
"RESOLUÇÃO Nº 193, DE 14 DE JANEIRO DE 2022Estabelece orientações e medidas sanitárias para retorno das atividades presenciais no âmbito de todas as Unidades da Defensoria Pública da União.O CONSELHO SUPERIOR DA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo inciso I do art. 10 da Lei Complementar 80/1994, resolve:CONSIDERANDO a necessidade de normatização de orientações e medidas sanitárias para retorno das atividades presenciais no âmbito de todas as Unidades da Defensoria Pública da União em face da pandemia SARS-CoV-2.Art. 1º. No prazo de cinco dias, contados da publicação desta resolução, os e as Defensoras Públicas Federais, servidoras, estagiárias e colaboradoras da Defensoria Pública da União apresentarão, conforme o caso, ao setor de recursos humanos: I - cópia de documento comprobatório de vacinação completa contra a COVID-19; ou II - atestado médico que evidencie contraindicação para a vacinação contra a COVID-19. Parágrafo único. No caso do inciso II, será exigida a apresentação de teste RT-PCR ou teste antígeno negativo para COVID-19 realizado nas últimas 72h, sem ônus à Defensoria Pública da União.Art. 2º. Para ingresso nas unidades da Defensoria Pública da União é obrigatória a apresentação de:
comprovante de imunização com observância do calendário estabelecido pela autoridade sanitária; ou
atestado que comprove a impossibilidade de imunização por indicação médica e teste RT-PCR ou de antígeno negativos para COVID-19, realizados nas últimas 72h.
Parágrafo único. O caput e seus incisos não se aplicam a pessoas em situação de vulnerabilidade que impeça ou dificulte a imunização, tais como pessoas em situação de rua, catadores e catadoras de recicláveis, dentre outros.Art. 3°. Essa resolução entra em vigor na data da sua publicação, revogadas as disposições em contrário."Caso tenha chegado até aqui sem ter o vídeo ainda, não deixe de conferir as falas dos defensores durante a transmissão ao vivo da reunião do CSPU." (Com Cynthia Araujo)