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Helena Theodoro
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11/2/2021 | Atualizado 10/10/2021 às 17:01
O ano de 2020 foi muito difícil para as escolas por conta da falta de apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro. Crédito Mariana Maiara
Todas as escolas de samba sempre demonstraram o seu papel de elemento preservador da memória e da cultura de sua comunidade, de nossas raízes africanas e indígenas, além de utilizar materiais do cotidiano em sua arte.
Em 1988, a Unidos de Vila Isabel causa uma outra revolução no Sambódromo ao trazer Kizomba, a Festa da Raça e por não usar brilhos nem paetês nas fantasias, adereços e carros alegóricos, lidando com tecidos africanos, muita palha e informação sobre Angola, país africano que nos trouxe um legado cultural imenso desde o século XVI.
O samba carioca é resultado da junção de nossa herança cultural banta, proveniente de Angola - que nos legou os quilombos, o jongo e a capoeira - com o samba de roda da Bahia - herança iorubá que nos foi trazida da Nigéria – a que se integraram com as tradições indígenas. Muitos são os desfiles que tratam dessas heranças. Todos esses saberes deveriam nos ser oferecidos no ensino fundamental, já que somos o segundo país do mundo de população preta, que se constitui em mais de cinquenta por cento do povo brasileiro. Somos a maioria da população do país, mas são as escolas de samba que revelam nossa história, nossas raízes.
O ano de 2020 foi muito difícil para as escolas por conta da falta de apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro. Graças a revista Roteiro dos Desfiles, publicação oficial do Sambódromo do Rio, editado por Marcos Roza há 12 anos, temos o registro destes desfiles, o que nos permite relembrar alguns elementos fundamentais da história negra e indígena, que confirmam nossas colocações.
Começamos com escolas do grupo A, que desfilaram na sexta-feira de Carnaval de 2020, destacando a Acadêmicos da Rocinha, que trouxe como enredo A Guerreira Negra que Dominou Dois Mundos. A escola prestou homenagem à Maria da Conceição, negra que se tornou a guerreira Maria Conga, heroína do quilombo que leva o seu nome, localizado em Magé, na Baixada Fluminense.
Já a Unidos da Ponte com o enredo Elos da Eternidade, mostrou como a população de São João de Meriti, local de muitos terreiros de candomblé e de umbanda, considera a preservação do samba como fundamental para a preservação da humanidade. Em seguida temos a Unidos de Porto da Pedra com o enredo O que a Baiana Tem? Do Bonfim à Sapucaí, que traz a homenagem de São Gonçalo, município do Rio de Janeiro, às mães do samba. Para finalizar, mais uma homenagem feita pela Acadêmicos do Cubango para Luiz Gama por sua luta antirracista no país.
No sábado de Carnaval, destacamos o desfile da Acadêmicos do Sossego que levou para a Sapucaí a história Tambores de Olokum, que celebra as raízes sagradas, históricas e personagens do cortejo negro que nasceu em Pernambuco: o maracatu. Uma outra escola, a Unidos de Bangu, contou a origem do continente africano através da visão de um Griô, senhor sábio contador de história da Velha África que fala da escravidão. E, para concluir nosso passeio, no desfile do Grupo A temos a Unidos de Padre Miguel que apresentou o enredo Ginga, falando da trajetória histórica da capoeira - manifestação cultural de matriz africana, hoje praticada e conhecida em todo o país e em diversos lugares do mundo.
Quanto às escolas do Grupo Especial, destacamos a Unidos do Viradouro que narrou a história da bravura e da liberdade conseguida pelas mulheres negras, as baianas ganhadeiras de Itapuã, que atuaram até o final do século 19 e atuam até hoje com o samba de roda do mar. A escola foi a vencedora do Carnaval de 2020.
Muitos enredos merecem destaque como o da Acadêmicos do Grande Rio, que contou a história de Joãozinho da Goméia, Pai de Santo que nasceu na Bahia e fez história como um dos maiores líderes religiosos do país, atuando em Duque de Caxias, município onde se localiza a escola. A Portela desfilou com uma história indígena, o enredo Guajupiá, terra sem males, que fala dos indígenas que habitavam a cidade do Rio de Janeiro antes da chegada dos portugueses. A Unidos de Vila Isabel também trouxe um conto indígena sobre a formação dos povos de diversas regiões do país, com o enredo Gigante pela própria natureza: Jaçanã e um índio chamado Brasil. Finalmente, não posso deixar de citar a Mocidade Independente de Padre Miguel que prestou homenagem a uma das maiores artistas negras brasileiras que com sua voz peculiar continua sendo sucesso no país e no mundo: Elza Soares.
Os desfiles das escolas de samba provam que elas desfilam porque existem, e fazem sucesso porque falam desse seu existir, de sua história. Fazem isso de uma maneira muito própria de construir e viver com todos num dado território, com alegria e muita fé, ensinando como criar um mundo melhor, mais colorido, pleno de arte e poesia.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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