No próximo sábado, dia 01 de fevereiro, serão eleitos os parlamentares que presidirão a Câmara e o Senado pelos próximos dois anos. Esta eleição é fundamental do ponto de vista decisório, uma vez que os presidentes, em conjunto com o Colégio de Líderes, determinam os projetos que tramitam nas casas legislativas e quando isso acontece, controlando a agenda desses órgãos. Ao que tudo indica, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) serão os eleitos para a presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, respectivamente. Tanto Republicanos quanto União Brasil possuem ministério no governo, contudo, isso não tem sido garantia de uma base aliada estável no Legislativo.A sucessão das presidências ganha ainda mais relevância para Lula e o PT se considerarmos que a atual desaprovação do governo é alta e ultrapassou pela primeira vez a sua taxa de aprovação. Portanto, um bom trânsito com os novos presidentes da Câmara e do Senado é fundamental para o governo conduzir a segunda metade do mandato e até mesmo se preparar para a próxima disputa da presidência da República em 2026. A boa relação, entretanto, não é favas contadas, pois exige articulação, barganha e disputa de defesa de interesses com outros partidos.Ainda em ritmo de campanha, Hugo Motta (Republicanos-PB) tem apostado numa típica posição centrista, acenando positivamente a governo e oposição. E tem obtido sucesso, pois sua candidatura recebeu apoio de lideranças de partidos das mais variadas preferências ideológicas, incluindo os arquirrivais PT e PL. Tamanho suporte tem construído quase uma unanimidade em torno de Hugo Motta, que pode se tornar o deputado com mais votos numa eleição para a presidência da Câmara. Se por um lado isso indica um ator político aberto a negociações, o que é favorável ao Executivo nos objetivos de garantir sua base no Legislativo, por outro, o bom trânsito com a oposição sugere também que o apoio ao governo será custoso. Este difícil equilíbrio não surpreende se analisarmos a distribuição de força partidária na Câmara, com PT e PL rivalizando como as maiores bancadas e uma forte presença de partidos de direita na Casa.Davi Alcolumbre (União-AP) também conta com apoio de diversos partidos, entretanto, seus movimentos pré eleição têm mantido o sinal de alerta ligado entre os governistas. Caminhando para presidir pela segunda vez o Senado, o parlamentar tem recebido forte respaldo de Jair Bolsonaro e seu partido (PL), gerando inclusive desconforto interno em função da candidatura de Marcos Pontes (PL-SP), esvaziada e criticada pelos seus próprios correligionários. Dentre as articulações entre Alcolumbre e oposição, chama atenção a ambição de reverter a inegibilidade de Bolsonaro, e também negociações em termos de ocupação e atuação nas comissões permanentes. Assim, embora o futuro presidente do Senado tenha apoio declarado do PT e seu partido (União Brasil) controle dois ministérios, as sinalizações mais relevantes de Alcolumbre até aqui foram feitas no sentido de garantir uma boa relação com o PL.O futuro que se avizinha, portanto, fornece ao governo alguma margem para negociar e implementar suas pautas na Câmara e no Senado. Entretanto, a articulação não será tarefa fácil e exigirá uma habilidosa distribuição de recursos como cargos e orçamento. Tal cenário não chega a ser negativo, pois a distribuição de forças nas casas legislativas não favorece Lula e PT. Ao mesmo tempo, o fato do PL, principal oposicionista, não conseguir liderar partidos estratégicos como PSD, MDB, PP, Republicanos e União Brasil, mantém vivas as possibilidades de articulação do Executivo. O momento é de definição e quem souber manejar melhor as peças do jogo largará com vantagem em 2026.A prometida reforma ministerial tem potencial para acomodar interesses de alguns partidos chave para a governabilidade, inclusive Republicanos e União Brasil. Porém, o atendimento de demandas partidárias alheias é apenas um dos próximos desafios do governo, que inclui reduzir o preço dos alimentos, aprovar a Lei Orçamentária Anual de 2025, o que deveria ter sido feito no final de 2024, regulação das Big Techs, enfrentamento de fake news, dentre outros. Nada disso avança sem suporte no Legislativo e bom trânsito com os presidentes das duas casas.O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected]