Paulo Bernardo: PGR confirmou "fragilidade" e "contradições" de denúncia
Congresso em Foco
17/3/2015 11:46
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Fábio Rodrigues Pozzebom/ABrO ex-ministro das Comunicações Paulo Bernardo disse que a Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou a "fragilidade" das acusações feitas contra ele por delatores da Operação Lava Jato ao não incluí-lo na relação dos políticos a serem investigados. Segundo o ex-ministro, as notícias que associavam seu nome ao esquema de corrupção na Petrobras foram baseadas em informações vazadas de maneira "seletiva", "ilegal" e "falsa".
Paulo Bernardo reiterou que jamais pediu dinheiro para a campanha eleitoral de sua esposa, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), ao contrário do que sugeriram o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef. Os procuradores chegaram a considerar a possibilidade de abrir investigação contra Paulo Bernardo, mas desistiram, e pediram apuração somente contra Gleisi.
"A fragilidade das acusações foi evidenciada pela própria Procuradoria Geral da República, que não pediu investigação contra mim. As referências a Gleisi também são frágeis, sem nada nos depoimentos que possa ligá-la a qualquer pedido (ou entrega) de valores", escreveu o ex-ministro em artigo publicado na Folha de S.Paulo.
No texto, Paulo Bernardo reclama da publicação de reportagens sobre os depoimentos que o associavam ao esquema de corrupção da Petrobras e diz que os próprios procuradores confirmaram haver contradições nas declarações de Youssef e Paulo Roberto.
"Em depoimento, o ex-diretor da Petrobras afirmou que Youssef lhe teria dito que 'havia um pleito' de Paulo Bernardo para a campanha de Gleisi Hoffmann ao Senado. Paulo Roberto Costa teria concordado com o 'repasse', acreditando que o pedido era mesmo de Paulo Bernardo, como dizia Youssef. O problema é que o doleiro desmente isso e afirma que o pedido para a campanha de Gleisi teria partido do próprio Paulo Roberto Costa", destacou o ex-ministro.
Paulo Bernardo também diz não se sustentar outra acusação contra Gleisi - a de que ela fazia parte do grupo do Palácio do Planalto que sabia do esquema de corrupção, ao lado do ex-presidente Lula, da presidenta Dilma e dos ex-ministros José Dirceu, Erenice Guerra e Antonio Palocci, apontados por Youssef.
"Importante lembrar que o processo trata da campanha de 2010, quando Gleisi não exercia cargo público. A senadora nunca teve qualquer tipo de contato com Youssef, assim como eu também nunca tive", ressaltou o ex-ministro das Comunicações. Gleisi foi ministra da Casa Civil entre junho de 2011 e fevereiro de 2014. No ano passado, a senadora disputou sem sucesso o governo do Paraná.
Leia a íntegra do artigo de Paulo Bernardo:
"Contradições e fragilidades
A fragilidade das acusações foi evidenciada pela própria Procuradoria Geral da República, que não pediu investigação contra mim
Na manchete da edição de 5 de março, esta Folha publicou que Paulo Bernardo estava na lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para ser investigado no âmbito da Operação Lava Jato. O meu rosto foi estampado em fotos na capa do jornal e na página A4.Desde outubro, trechos selecionados de depoimentos da Lava Jato ocupam a mídia com a citação do meu nome e do da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), minha mulher.Centenas de reportagens foram publicadas com os mesmos elementos: em 2010, Paulo Bernardo Silva, então ministro do Planejamento, teria pedido ao então diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, uma doação de campanha para Gleisi Hoffmann, candidata ao Senado.O pedido teria sido repassado a Alberto Youssef para a remessa dos valores. O enredo incluiu ainda outra afirmação: Paulo Roberto Costa teria informado que as letras "PB", escritas por ele em uma agenda, seriam do meu nome.Reportagens e mais reportagens foram baseadas em informações vazadas de maneira seletiva e ilegal, posto que o processo era formalmente sigiloso. No nosso caso, sabemos hoje, além de seletivo, o vazamento foi falso, pois divulgaram algo que não consta dos autos. A imprensa ignorou tudo isso e desconsiderou o "outro lado" ao veicular tais informações.Agora, ao ter acesso aos autos anexados pela própria Procuradoria Geral da República, pudemos ver que eles desmentem essa versão. Em depoimento, o ex-diretor da Petrobras afirmou que Youssef lhe teria dito que "havia um pleito" de Paulo Bernardo para a campanha de Gleisi Hoffmann ao Senado.Paulo Roberto Costa teria concordado com o "repasse", acreditando que o pedido era mesmo de Paulo Bernardo, como dizia Youssef. O problema é que o doleiro desmente isso e afirma que o pedido para a campanha de Gleisi teria partido do próprio Paulo Roberto Costa.Com versões desencontradas, Paulo Roberto e Youssef foram chamados a depor novamente e ambos reafirmaram o que haviam dito antes. Assim, a contradição se manteve. O caso da caderneta foi esclarecido por Paulo Roberto: a sigla PB constava de uma relação apresentada por Youssef e copiada por ele, Paulo Roberto Costa.A fragilidade das acusações foi evidenciada pela própria Procuradoria Geral da República, que não pediu investigação contra mim. As referências a Gleisi também são frágeis, sem nada nos depoimentos que possa ligá-la a qualquer pedido (ou entrega) de valores.Contra a senadora, o procurador incluiu outra acusação, ainda mais frágil: durante o processo, Youssef declarou que o Planalto sabia de tudo --leia-se Lula, Dilma Rousseff, José Dirceu, Erenice Guerra, Antonio Palocci e Gleisi Hoffmann.Importante lembrar que o processo trata da campanha de 2010, quando Gleisi não exercia cargo público. A senadora nunca teve qualquer tipo de contato com Youssef, assim como eu também nunca tive.A propósito: Youssef já foi preso e condenado. Livrou-se da cadeia valendo-se da delação premiada e voltou à atividade, tornando-se um dos maiores doleiros do país. Quer dizer, ele já ludibriou a lei e pode supor que ganhou com isso.Vamos nos defender com a verdade e as armas do Estado democrático de Direito para restaurar a dignidade do nosso nome, duramente atingida pelas precipitações que fermentam o noticiário.Não prescindimos do papel da imprensa como instrumento de esclarecimento público e de busca da verdade, mas achamos que há algo de muito errado nesse frenético publicar de informações vazadas seletiva, falsa e ilegalmente, sem o direito ao contraditório.Além de desconsiderarem a presunção de inocência, valor fundamental na democracia, esses procedimentos põem em causa os princípios do processo justo."Mais sobre a Operação Lava Jato