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Meninos perdidos

Congresso em Foco

11/10/2015 | Atualizado às 18:40

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Fábio Flora *
Amanhã é aquele dia em que muitos vão se lembrar de quando corriam descalços na rua, jogavam queimado no play, passavam as manhãs perdidos na Caverna do Dragão, varavam madrugadas devorando fantasminhas com um joystick, viajavam para o outro lado do mundo ao lado de jaspions e gyodais, morriam de vergonha da mamãe e do papai puxando o parabéns da Xuxa, faziam de um tabuleiro o jogo da (sua) vida. Sorte a minha estar entre esses cuja caixa-forte de memórias felizes é bem maior que a do Tio Patinhas. Uma turma que, apesar de já ter deixado Oz e suas mágicas há algum tempo - de já ter vivido trinta e tantos outubros -, ainda guarda com carinho cada um dos tijolos amarelos que ajudaram a pavimentar sua estrada até aqui. Pena que nem todas as estradas recebam um acabamento semelhante; algumas colecionam tantos buracos que invariavelmente causam acidentes e fazem vítimas. É o caso das ruelas percorridas por aqueles jovens que mal dobraram a esquina da infância com a adolescência e já abandonaram a criança que um dia existiu neles. Em seus bolsos não restou um centavo de memória feliz - apenas a lembrança do guri que só corria descalço porque não tinha o que calçar; que jamais brincou num lugar tão seguro quanto um play; que passava as manhãs perdido entre arranha-céus de lixo catando uns trocados; que varava madrugadas no chão esperando os tiros cessarem; que só viajava quando lhe ofereciam um teco (e não era de pirlimpimpim); que morria de vergonha de não saber dizer o paradeiro da mãe e o nome do pai. Que jogava um War cujo tabuleiro era o próprio cotidiano. Recentemente, um arrastão de manchetes levou muita gente a demonizar esses adolescentes em razão dos crimes praticados por eles numa famosa praia carioca. Psicopatas, gritaram uns. Não têm caráter, berraram outros. Como se de repente um surto de psicopatia e mau-caratismo tivesse atingido apenas meninos pobres, negros e moradores da periferia - meninos cujo caminho até aquela areia nunca chegou perto do tapete macio por onde um dia deslizamos nossos autoramas. (Só um parêntese de esclarecimento: tentar entender por que este ou aquele jovem ingressou na tripulação do Capitão Gancho não significa defender a impunidade. Toda pirataria deve ser combatida e castigada. No entanto, mandar para a prancha o pequeno Alma Negra sem compreender a origem de sua vilania seria tão inócuo quanto tratar uma febre sem curar a infecção.) Enfim, que a data a ser comemorada amanhã vá além de saudades coloridas e álbuns desbotados. Que seja também um cantinho do pensamento para todos nós. Não vai fazer mal nenhum dedicarmos um minuto de silêncio às crianças que - ao tirarem a cartela do revés no Banco Imobiliário da vida - tiveram mais que suas infâncias roubadas. Perderam a chance de construir a própria Terra do Nunca.
* Cronista residente no Rio de Janeiro, Fábio Flora mantém o blog Pasmatório e perfil no Twitter. Mais textos de Fábio Flora
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