Caçulas estreiam com voz ativa no novo Congresso. Veja o perfil de todos os parlamentares
Congresso em Foco
22/2/2019 | Atualizado às 16:15
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Luisa Canziani, Kim Kataguiri e Tabata Amaral: apesar da pouca idade, estreiam sem timidez na CâmaraMontagem: Cleia Viana/Ag. Câmara/Gabinete-Kim Kataguiri/Alexandre Amarante/Gabinete-Tabata Amaral
Eles mal entraram na vida adulta, e já ocupam espaço que muitos políticos profissionais nunca alcançaram. Nas primeiras semanas de trabalho, os seis deputados eleitos com menos de 25 anos soltaram a voz na tribuna para marcar posição. Em 2014, só dois se elegeram nessa faixa etária. Na média, os novos deputados têm 49 anos, um a menos do que os 50 registrados quatro anos antes. A idade de cada parlamentar é uma das informações que você pode acessar para conhecer o perfil dos novos congressistas. A nova base de dados reúne várias outras informações, como a votação obtida por cada um deles, o patrimônio declarado à Justiça eleitoral, o grau de escolaridade, a cor autodeclarada, o endereço do gabinete, uma curta biografia e link para matérias deste site em que ele ou ela recebeu alguma menção.
A nova ferramenta entrou no ar no último dia 14, no mesmo mês em que o Congresso em Foco completa 15 anos de existência. O seu objetivo é, como tudo o mais que fizemos desde então, ampliar o conhecimento dos cidadãos sobre os representantes eleitos e estimulá-los a acompanhar e fiscalizar o trabalho parlamentar.
Estreia imediata
Aos 22 anos, a deputada Luisa Canziani (PTB-PR), a mais jovem entre os 594 congressistas, aproveitou o primeiro dia de trabalho após a posse para fazer o que o deputado Tiririca (PR-SP), que exerceu seu terceiro mandato, demorou quase sete anos: estrear ao microfone. Desde o dia 5, ela discursou outras duas vezes.
João H. Campos virou o deputado mais votado da história de PernambucoDivulgação"Chega de sermos o país do futuro, chegou a hora de sermos o país do presidente, da educação de qualidade, da inovação, da ciência e tecnologia, de ser um país mais justo e igualitário", discursou ao se apresentar a jovem paranaense, filha do ex-deputado Alex Canziani (PTB-PR), que tentou sem sucesso ano passado uma cadeira no Senado.
Por outro lado, o número de deputados mais velhos diminuiu 12% em relação a 2014. Atualmente 102 integrantes da Câmara são maiores de 60 anos, o que corresponde a um quinto da Casa. Assim como a mais jovem, a mais idosa também se chama Luiza (só que com z). Aos 84 anos, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) exibe o mesmo vigor que tinha quando se tornou, em 1988, a primeira mulher a comandar a maior cidade da América do Sul, São Paulo. Na época tinha 54 anos.
Entre os seis mais jovens - eleitos com menos de 25 anos -, três são de famílias de políticos: além de Luisa Canziani, João H. Campos (PSB-PE), filho do ex-governador Eduardo Campos, falecido em desastre aéreo em 2014, e Emanuel Pinheiro Neto (PTB-MT), filho do prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro.
Jovem conservador
Outros dois novatos, no entanto, carregam o feito de ter conquistado o primeiro mandato sem ter qualquer parente na política: Kim Kataguiri (DEM-SP), eleito com 21 anos, e Tabata Amaral (PDT-SP), eleita com 24. Ambos, em seus discursos de apresentação, fizeram questão de ressaltar que vieram de famílias de poucos recursos financeiros.
[caption id="attachment_377903" align="alignright" width="450"]Emanuel Pinheiro Neto e o pai, Emanuel Pinheiro, prefeito de CuiabáDivulgaçãoConservador assumido e líder do Movimento Brasil Livre (MBL), que ganhou projeção nos protestos pelo impeachment da ex-presidente Dilma, Kataguiri tem dedicado seus primeiros dias de parlamentar a criticar a esquerda. Em seu pronunciamento de estreia, o deputado, que completou 23 anos em 28 de janeiro, disse que o pobre é quem mais se beneficia do liberalismo, uma de suas principais bandeiras políticas.
"Sou filho de metalúrgico e dona de casa. Não tenho origem de playboy, como as esquerdas adoram dizer. 'Ah, só filho de rico ou de bilionário defende o liberalismo!' Pelo contrário, quem mais se beneficia do liberalismo, quem mais se beneficia da liberdade de mercado, é justamente o mais pobre, aquele que mais precisa."
Da periferia para HarvardTabata Amaral, que completou 25 anos em 14 de novembro, despontou como exemplo de superação. Filha de um cobrador de ônibus e de uma bordadeira e diarista, deixou a periferia de São Paulo para cursar astrofísica e ciência política na Universidade de Harvard, uma das mais prestigiadas do mundo. De volta ao Brasil, ajudou a fundar os movimentos Acredito, que prega renovação nas práticas políticas, e Mapa Educação, voltado para a melhoria da educação.
"Cheguei aqui, porque uma professora, com a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas, acreditou que eu também poderia estudar; porque alguns professores pagaram o meu almoço, pagaram as minhas roupas; porque algumas pessoas me disseram que eu também poderia fazer faculdade, mesmo os meus pais não terminado o ensino médio", contou Tabata.
A jovem criada na Vila Missionária, na periferia da capital paulista, também foi selecionada para a Universidade de São Paulo e admitida em outras cinco universidades norte-americanas, com direito a bolsa integral: Yale, Columbia, Princeton, Pensilvânia e Caltech. Preferiu Harvard.
DNA político
Em sua primeira disputa eleitoral, João H. Campos fez jus ao sobrenome. Filho de Eduardo Campos, neto da ex-deputada Ana Arraes, ministra do Tribunal de Contas da União e bisneto do ex-governador Miguel Arraes, elegeu-se deputado aos 24 anos com a maior votação da história de Pernambuco. Foram mais de 460 mil votos.
Em seu pronunciamento de estreia, na última quarta (20), saudou o colega de partido Felipe Rigoni (ES), de 27 anos, o primeiro cego a conquistar um mandato no Congresso. "Fico feliz, Felipe, em ver em seu primeiro pronunciamento sua capacidade de transmitir verdade e sentimento. Fico muito feliz de dividir as trincheiras de luta do PSB, que já conquistaram vários caminhos para o povo brasileiro e de saber que agora o partido conta com um jovem de experiência que tem determinação e comprometimento com o povo brasileiro", discursou.
Filho de prefeito e neto de ex-deputado federal, Emanuel Pinheiro Neto dedicou sua estreia à própria família. "Agradeço a toda a minha amada família e, por meio deles, agradeço a um homem que tem me ensinado todos os dias, não por palavras, mas por gestos e ações, o valor da disciplina e da resiliência, o meu amado pai, Emanuel Pinheiro, professor, advogado, vereador, deputado, prefeito e um dos Pinheiros que encontrou na política um sentido de sacerdócio para a sua existência", declarou.
Onda de renovação
[caption id="attachment_377904" align="alignleft" width="437"] Enrico Misasi mostra seu diploma de deputado, cargo que conquistou em sua primeira disputa eleitoralDivulgaçãoAdvogado e mestrando em Direito Constitucional, Enrico Misasi só vai completar 25 anos em agosto. O jovem deputado paulista se elegeu defendendo a substituição do sistema presidencialista pelo semipresidencialista e a promoção de reformas estruturantes.
"Quero agradecer esta oportunidade, falar da reverência e da honra que sinto em ocupar esta tribuna pela primeira vez e me colocar à disposição para, com qualidade, discussão e bastante diálogo, encontrarmos as soluções de que o Brasil precisa nesses próximos quatro anos. Falar de problemas é muito fácil. Uma criança consegue apontar vários problemas. O que precisamos fazer é nos unirmos para encontrarmos soluções para todos os desafios que se apresentarem à nossa frente", discursou em 13 de fevereiro.
Esses parlamentares chegaram ao Congresso empurrados por uma forte onda de mudanças. Basta dizer que a renovação no Senado, de 59%, foi a maior ocorrida desde a Constituição de 1988. Na Câmara, o índice de 52,5% é o mais alto desde 1990.
Como mostrou o Congresso em Foco, a eleição para o Parlamento repetiu o fenômeno da disputa presidencial: a direita engoliu o centro e avançou sobre a esquerda. Mais da metade dos deputados e quase 50% dos senadores eleitos são filiados a partidos considerados de direita. Esse grupo cresceu exponencialmente nos últimos oito anos no Congresso: 32% na Câmara e 60% no Senado.