Entrar

    Cadastro

    Notícias

    Colunas

    Artigos

    Informativo

    Estados

    Apoiadores

    Radar

    Quem Somos

    Fale Conosco

Entrar

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigos
  1. Home >
  2. Notícias >
  3. A bela resignada?

Publicidade

Publicidade

Receba notícias do Congresso em Foco:

E-mail Whatsapp Telegram Google News

A bela resignada?

Congresso em Foco

4/5/2016 8:30

A-A+
COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA
A dor é sempre objetiva para quem sente. Mas quem a sente, ao descrevê-la, não consegue em palavras passar realmente como é a dor e qual a sua intensidade. Lembro-me de uma ocasião em que atendi no consultório uma criança, um menino, de cerca de dez anos de idade. Pelo aspecto físico e comportamento psicológico, ele estava realmente sofrendo. Atendi-o acompanhado do pai e da mãe. O relato era de "dor de barriga". Pedi a ele que me descrevesse o que sentia, como era aquela dor. Ele pegou meu braço entre os seus dedos, polegar e indicador, e apertou. Apertava com intensidade variada, e soltava. Entendi, era uma dor que pulsava e variava de intensidade. Tempos atrás, fui fazer a palestra de abertura em uma Conferência Municipal de Mulheres em Apucarana (PR). Primeiro, achei que não era o mais preparado e adequado palestrante para o evento. Segundo, o que falar para mulheres que individualmente e/ou coletivamente, ao longo da História, sempre foram vítimas de violência machista? Sempre carregaram muita dor. Todo homem é machista - uns mais, outros menos - e alguns se consideram em "desconstrução". Coloco a palavra desconstrução entre aspas porque não sei se é a palavra adequada para usar quando um homem tem consciência de que todos somos machistas e tem a consciência da necessidade de superá-lo. Fui para a conferência a convite de companheiras que lutam contra o machismo. Convidaram-me por entender que a superação do machismo passa por mudar a cultura da sociedade e, para isso, precisam ter aliados. E me consideram um aliado. Como qualquer pessoa - e, no meu caso, por ser homem e não ter experiência em falar em conferências para mulheres - "quebrei" a cabeça para organizar o que abordar. Na vida, está sempre presente a dor física ou psicológica. E em ambos os casos, a intensidade depende da susceptibilidade individual. Só que nesse cotidiano há algumas dores que são próprias de gênero (deixo fora a dor do parto), como a dor de ser vítima do machismo. Não só a dor da agressão física, mas a dor da humilhação diária. Essa dor, como todas as dores, só pode falar dela quem a sente. Portanto, sobre a dor da humilhação pelo machismo, só a mulher pode falar. Resolvi começar minha palestra pelo conceito de dor. Preferi buscar o conceito de dor num dicionário, o do Houaiss, e não num compêndio de medicina. No dicionário, a primeira coisa que me chamou a atenção é que a palavra dor é um substantivo feminino. Nunca antes tinha observado isso. Entenderam? Dor é um substantivo feminino. Houaiss trabalha vários conceitos de dor, dos quais só vou retirar dois. Dor é: (1) "Mágoa originada por desgostos do espírito ou do coração; sentimento causado por decepção, desgraça, sofrimento, etc"; e (2) "Os sete padecimentos da Virgem Maria, lembrados pela Igreja espanhola na sexta-feira da Semana da Paixão". O primeiro conceito acima pode acometer os homens e as mulheres, mas creio que a decepção está mais presente na mulher, pois nenhuma gostaria de ter como companheiro um machista e, muitas vezes, um agressor físico e/ou psicológico. Essa decepção é causadora de imensa e profunda dor. O segundo conceito ("Os sete padecimentos da Virgem Maria") diz respeito à dor de ser mãe - algo que o homem não sente, portanto diz respeito a ser mulher. São referentes à relação entre mãe e filho. Como consta no dicionário: uma das dores explica, em parte, a influência da nossa (cultura) civilização cristã. Se dor é substantivo feminino, machismo é substantivo masculino. Entre vários conceitos, Houaiss define machismo como "comportamento que tende a negar à mulher a extensão de prerrogativas ou direitos do homem". Entendi a "bela, recatada e do lar" da revista Veja como uma agressão, portanto uma das causas de dor. "Bela" é um conceito relativo, assim como "recatada" também o é. Porém, ser "do lar" já não é tão relativo. Todo homem sabe o que é "ser do lar". Foram muitos os anos em que, quando perguntado à mulher "qual a profissão?", a resposta vinha sempre: "Do lar". Sabemos perfeitamente a quem a revista quis atingir, além de Dilma. Quis atingir todas as mulheres que não se submetem à vontade do homem. Toda mulher que, sob o conceito deles, não é bela, não é recatada e nega o (lar) lugar ao qual foi exclusivamente destinada. O cântico da Veja é uma ode à submissão, aos dissabores e às dores causadas pelo machismo. É a bela limpando a cueca do macho, lustrando seus sapatos e disposta aos seus prazeres. É o cântico ao machismo e à imposição da eterna dor da opressão e da humilhação. É a bela se resignando diante de todas as dores. Felizmente, sabendo o significado desse cântico, mulheres brasileiras o negaram e o escracharam. Mais sobre mulheres Mais sobre direitos humanos
Siga-nos noGoogle News
Compartilhar

Tags

Dr. Rosinha imprensa jornalismo mulher Veja machismo Houaiss crise política Antonio Houaiss dor Virgem Maria Marcela Temer

Temas

Direitos Humanos

LEIA MAIS

direitos humanos

Senadores entregam relatório da CPMI dos Atos Golpistas a relator da OEA

Plenário da Câmara

Câmara vota projeto que endurece regras de medida protetiva

NOTÍCIAS MAIS LIDAS
1

Judiciário

Fux vota contra cautelares impostas por Moraes e Bolsonaro

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigosFale Conosco

CONGRESSO EM FOCO NAS REDES