Fim de mandatos no Congresso intensifica busca por espaço no Executivo
Parlamentares em fim de mandato que não se reelegeram lutam agora por uma vaga nos escalões de baixo do governo Lula
Congresso em Foco
30/1/2023 7:14
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Marcelo Ramos é um dos que buscam uma vaga no governo Lula. Foto: Alan Rones/Agência Câmara
Daniel Machado
Especial para o Congresso em Foco
Com as atenções no Congresso voltadas para a posse dos deputados e senadores, um movimento pode passar despercebido na reabertura dos trabalhos legislativos. Derrotados nas urnas, cerca de 200 parlamentares (192 deputados e oito senadores) não terão seus mandatos renovados e devem movimentar ainda mais o tabuleiro político na busca por espaço nas estatais e no segundo escalão da Esplanada dos Ministérios.
Assessores palacianos revelam que há, da parte do governo, uma espécie de dívida de gratidão com deputados e senadores que tiveram suas reeleições comprometidas com o apoio a Lula, sobretudo dos partidos aliados MDB, PSD e União Brasil. Alguns desses, portanto, estão no radar do Palácio do Planalto para futuras indicações.
Ramos e Trad
É o caso do deputado Marcelo Ramos (PSD-AM). Cotado para assumir uma cadeira no Conselho da Petrobras ou até mesmo a assessoria da presidência da estatal, Ramos teve um mandato marcado, entre outras coisas, pela oposição ao governo Bolsonaro. Um ano após assumir a vice-presidência da Câmara, teve de deixar o cargo ao trocar o PL pelo PSD assim que o ex-presidente Jair Bolsonaro se filiou ao Partido Liberal. A vaga, decidiu a Justiça, cabia à antiga legenda.
Outro integrante do PSD que pagou caro nas urnas por apoiar o presidente Lula foi o deputado Fábio Trad (MS). Representante de um estado onde o ex-presidente Bolsonaro saiu vencedor em 66 dos 79 municípios, o sul-mato-grossense começou a perder votos em massa a partir de 2019, quando liderou um grupo de cerca de 70 parlamentares de 12 partidos até o Supremo Tribunal Federal. Na ocasião, coube a Trad interceder junto ao ministro Dias Toffoli pela anulação da decisão da juíza federal do Paraná, Carolina Lebbos, de transferir Lula da carceragem da Polícia Federal do Paraná para o presídio do Tremembé, em São Paulo. A sentença foi derrubada pelo Supremo no mesmo dia.
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, articula o nome de Trad nos bastidores e o parlamentar e advogado sul-mato-grossense tem seu nome especulado para assumir algum cargo estratégico no Ministério da Justiça ou na Controladoria-Geral da União (CGU).
Kátia Abreu
Kátia Abreu pode vir a ocupar uma embaixada no exteriior. Foto: Leopoldo Silva/Agência SenadoJá a senadora Kátia Abreu (PP-TO) é visada para atuar em outra frente no governo Lula, de quem aparenta estar cada vez mais próxima. Segundo informações do jornal Folha de S.Paulo, a parlamentar tocantinense tem mais chance de ser nomeada para alguma embaixada do Brasil. Em recente entrevista à Agência DW, Kátia Abreu revelou não ter pretensões políticas. "Não estou cogitando isso. Inclusive cogito até ir para a iniciativa privada. Estou colaborando com o presidente Lula no que for preciso, desinteressadamente".
Correm por fora, ainda, os nomes dos deputados Wolney Queiroz (PDT-PE), Samuel Moreira (PSDB-SP) e Professor Israel (PSB-DF), além da senadora Nilda Gondim (MDB-PB).
Filtro ideológico
Lideranças dos partidos aliados da chamada "Frente Ampla" têm cobrado mais agilidade da parte do governo na nomeação de seus indicados e representantes.
No entanto, o principal gargalo que tem emperrado o processo é o chamado "filtro ideológico". A revelação foi feita por alguns interlocutores do presidente Lula, que teria admitido a aliados que a "desbolsonarização" da gestão atravanca o processo de escolha desses nomes.
Segundo fonte entrevistada pela agência FolhaPress, o receio de quadros atrelados ao bolsonarismo em funções estratégicas e sensíveis da administração ocorre, principalmente, nos ministérios encabeçados por partidos de centro e recém-aliados ao governo, como é o caso do MDB, PSD e União Brasil.
Exemplo disso deu-se no início de janeiro, quando o policial rodoviário Edmar Camata deixou de ser nomeado comandante da Polícia Rodoviária Federal (PRF) após a descoberta de conteúdos na sua rede social em apoio à Operação Lava Jato e à prisão de Lula.
Em coletiva de imprensa no início de janeiro, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, destacou que, além do filtro ideológico, outros dois pré-requisitos são fundamentais para os futuros contemplados: a "capacidade técnica e a capacidade de influência política no Congresso Nacional".