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Congresso em Foco
31/7/2020 | Atualizado 10/10/2021 às 17:33
E lá se vão vinte anos de Big Brother, quase quarenta anos de Xuxa e Faustão incansável e sistematicamente promovendo aberrações e nulidades, e emburrecendo a população. Isso sim é genocídio. E ainda tem gente que não entende o que aconteceu com a música, o teatro, o cinema e a literatura brasileira. Ora, faleceram sem que ninguém reclamasse os corpos. E não foram enterrados: zumbis-desavisados, mortos-vivos, pobres-coitados.
Voltando ao apocalipse. Como se o trabalho dos animadores deste circo de horrores tivesse preparado o terreno (ou o pasto) para a ascensão dos idiotas da internet que, hoje, ajudam a disseminar a ignorância, a nulidade e as trevas no Brasil. O estrago foi imenso e está em processo de expansão irreversível, lamento dizer. Para resumir, ter dado voz àqueles que historicamente sempre permaneceram calados, foi a mesma coisa que abrir a caixa de desgraças de Pandora. Bom ressaltar que os idiotas em questão permaneceram calados por milênios não porque foram oprimidos, mas porque nunca tiveram nada a dizer ontem, não tem hoje e não terão amanhã; todavia, por um desastre da natureza, verdadeiro casamento do céu com o inferno, adquiriram voz e vocalizaram suas cloacas.
Vale dizer, as iluminações e o gênio foram trocados pelos guinchos, relinchos, glúteos e latidos dos idiotas e, como se não bastasse, a idiotice foi turbinada pelas aparentemente boas e corretas causas. Todo idiota, podem reparar, carrega um estandarte e dá exemplos para os outros, tem o espírito coletivo como as formigas e age no sentido de preservar a espécie. Eles são idiotas, mas não são burros.
Ter um pouco de talento e o mínimo de originalidade nesse mundo é crime. A realidade também não existe, e os fatos e o conhecimento são negados no caso de não se encaixarem nas expectativas dos donos da famigerada voz, cloaca ou “narrativa”, ou seja, nas expectativas daqueles que não tiveram, não tem e nunca terão nada a dizer. É o lugar do assassinato das individualidades, onde o gênio é um pária e morre ignorado.
Woody Allen, por exemplo. Ainda que seja o maior canalha que pisou sobre a face da terra, o que temos para substitui-lo?
O discurso das feministas do Me too. Mais nada além de um discurso que, apesar da premência e necessidade (causas justas no lugar errado), jamais vai preencher a lacuna do novo filme de Allen. Um filme que ficou três anos na gaveta e quase não foi distribuído por odiosa revanche. Só por isso. A autobiografia de Allen sofreu/sofre o mesmo boicote.
E se um novo Manhattan tivesse sido boicotado? O que os idiotas e os linchadores teriam a oferecer para ocupar o lugar do filme senão a patrulha das melhores intenções, pedras, ódio, ressentimentos e causas justas? Causas que, repito, estão nos lugares errados e que talvez procedam num consultório de psicanálise ou em qualquer outro fórum ou auditório de televisão apropriados, menos no lugar do gênio e das individualidades.
Eu (questão de estilo e gosto, e isso não tem nada a ver com o fato de estar certo ou errado ou de ser bom ou mau) não troco a sequência de Marshall McLuhan na fila do cinema em Noiva nervosa, noivo neurótico por toda a filosofia da Angela Davis.
Impressionante, a propósito, como algumas teses (e sofismas) se revestiram com a armadura das causas sagradas e ganharam status de verdades pétreas e incontestáveis; qualquer um que divirja um milímetro de suas diretrizes ou que destoe minimamente da “narrativa-dogma” será imediatamente julgado como inimigo e opressor da justiça, pobre justiça. E não restará outro veredito ao herege senão sua eliminação sumária. Aqui vai um exemplo caro às esquerdas: a desmilitarização das policias militares. A meu ver, é uma tese curiosa. Pode proceder ou não, acho que não. Independentemente do que acho ou deixo de achar ( isso não tem a mínima importância), merece debate, troca de ideias, esclarecimento, e risos se for o caso. E não encerramento de questão, julgamento e condenação prévias, tanto de quem é a favor como de quem é contra. A mesma coisa vale ( ou deveria valer... por que não valeria?) para o dadaísmo, a volta de dom Sebastião e a ressurreição de Cristo, para o racismo estrutural, o marxismo e o veganismo, a terra plana e tantas outras teses que deram as caras nos últimos milênios, séculos e na semana passada.
Chega a ser constrangedor sublinhar que teses não têm força de lei, ninguém é obrigado a cumpri-las e muito menos aceitá-las. Que eu saiba o riso é livre. Eu até me divirto com algumas. Às vezes tenho horror e muito medo de outras. De qualquer modo, teses são apenas teses, elas podem morrer na praia como um amor de verão, mas eventualmente podem cooperar para o desarrollo das sociedades ou até mesmo destruí-las.
A hidroxocloroquina, portanto, não é prerrogativa nem privilégio do idiota da direita mais tosca e truculenta que tivemos notícia desde o aparecimento de Afanásio Jazadji. O idiota de esquerda também tem seus remédios, métodos e curas igualmente medievais e genocidas. O que eu quero dizer é: não precisamos ser tão idiotas, vamos com calma. Mais Nelson Rodrigues, mais Woody Allen, menos Plínio Salgado e menos Stálin, e esqueçam o blá blá blá, as perorações marotas e as poesias do Pedro Bial, mas não o expurguem, pois somente o próprio poderia fazer isso por si mesmo. Bem, finalmente, creio que ninguém precisa ser tão esperto para compreender a singela regrinha de três que expus acima, bastaria não ser tão idiota. Ou será impossível, Nelsão, tarde demais para não ser tão idiota?
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