Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Internacional
Congresso em Foco
11/12/2021 | Atualizado às 15:58
Silje Karine Muotka,a atual presidente do parlamento Sami. Foto:Árvu/Sametinget[/caption]
Como se pode imaginar, por muito tempo os Sami foram perseguidos e discriminados. Vítimas de racismo e extrema violência cultural até meados do século passado, tiveram seus idiomas e manifestações culturais proibidas e foram obrigados a assimilar, pela força, a cultura norueguesa, integrando- se à sociedade dominante.
Após muito tempo de luta, os Samis foram aos poucos conquistando seus espaços e garantindo direitos. Hoje é um povo relativamente protegido pelo governo norueguês. Têm suas próprias escolas onde aprendem seu idioma, sua cultura, seu artesanato . Além dos vários representantes desse grupo étnico integrados à sociedade norueguesa, muitos vivem atualmente em cidades setentrionais, de maioria Sami. Ainda que tenham em suas cidades moradias fixas, ainda viajam muito e passam tempos fora de suas cidades, recriando um pouco da vida nômade de outrora. O idioma Sami, de origem fino-úgricas (grupo linguístico ao qual pertencem ainda o finlandês e o húngaro) é hoje, considerado, ao lado do norueguês, idioma nacional da Noruega.
De todas as conquistas Sami na luta por seus direitos, a mais emblemática talvez tenha sido, em 1989, a criação do Parlamento Sami
O Parlamento Sami, criado em 1989, é financiado pelo Estado Norueguês, e é a instância máxima de representação do grupo étnico. Conta com 39 membros eleitos democraticamente em 7 circunscrições eleitorais, , a cada 4 anos. Estão aptos a votar e serem votados todos aqueles que se declaram como parte da etnia e se registrem em um conselho eleitoral municipal. Convém ainda lembrar que há Parlamentos Sami também na Suécia, Finlândia e Rússia
O Parlamento Sami é responsável por definir as políticas voltadas para a comunidade Sami, e tem inclusive direito jurisdicional sobre a região da Finnmark ( região norte da Noruega historicamente ocupada, de forma majoritária, pelo povo Sami). Nessa região, todas as decisões – inclusive relativas à posse/ propriedade de terras, são decididas por um órgão formado por três representantes do Parlamento Sami e três representantes do Condado de Finnmark ( normalmente também composto por Samis).
Em caso de empate em uma resolução , a decisão fica por conta de um comitê formado por um integrante do Parlamento Sami, um integrante do condado de Finnmark e uma pessoa apontada pelo rei da Noruega. Não se tem notícia que esse comitê já tenha sido acionado em algum momento, mas seja como for, é uma demonstração contundente de que o governo norueguês não tem nenhuma ingerência sobre a área.
As eleições se dão em base proporcional, de acordo com o número de eleitores cadastrados em cada uma das 7 circunscrições. Os eleitos formam então a Assembleia , que se reúne 4 vezes ao ano para deliberações. São responsáveis ela elaboração de toda a política pública que diz respeito ao grupo Sami. Caracteriza-se como um corpo político independente, que interage como ator fundamental tanto junto ao próprio parlamento Norueguês quanto a demais instância políticas internacionais consolidadas.
Além das Assembleias trimestrais, há ainda um Conselho Executivo, formado por 5 membros, sendo um deles o Presidente da Assembleia – eleito entre os pares.
[caption id="attachment_525814" align="alignleft" width="300"]
O parlamento Sami em 2021. Foto: Kenneth Hætta via Wikimedia Commons[/caption]
É esse Conselho o responsável pela elaboração e execução das políticas que dizem respeito ao povo Sami. Funciona como uma espécie de “gabinete”- inicia os debates e implementa decisões enquanto tiver a confiança da Assembleia.
Quanto aos demais parlamentares, fazem parte de comitês que organizam as Assembleias Plenárias , recebendo e debatendo as diretrizes propostas pelo trabalho do Conselho, e preparando-as para as discussões plenárias.
A estrutura política adotada pelo Parlamento Sami, pode, com certeza, ser alvo de críticas e constante aperfeiçoamento. Entretanto, é inegável perceber que a simples existência desse Parlamento, inclusive com poderes jurisdicionais sobre a região que abriga a maior parte dessa etnia, é um passo adiante na luta pelos direitos dos povos indígenas, e convém ser melhor estudado e conhecido por nós, que estamos ainda muito longe de equacionar de forma satisfatória a presença indígena em nossas instâncias de poder.
* Cristina Saraiva é ativista ambiental, compositora e historiadora, fundadora do GAP Pró- Música. Hedda Smedheim Bjerklund é mestranda de filosofia na Universidade Ártica da Noruega, em Tromsø. Sua tese analisa mudanças climáticas e comunidades indígenas.Temas
{ "datacode": "NOTICIAS_MAIS_LIDAS", "exhibitionresource": "NOTICIA_LEITURA", "viewed": [] }