Lobby dificulta projetos de prevenção de desastres, diz deputado que foi bombeiro em Brumadinho
Porta-voz do Corpo de Bombeiros durante a tragédia de Brumadinho, em 2019, o deputado Pedro Aihara viveu de perto o rompimento da barragem e fez da prevenção de desastres sua bandeira na Câmara dos Deputados.
Congresso em Foco
9/2/2025 10:03
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Porta-voz do Corpo de Bombeiros durante a tragédia de Brumadinho, em 2019, o deputado Pedro Aihara (PRD-MG) viveu de perto o rompimento da barragem e fez da prevenção de desastres sua bandeira na Câmara dos Deputados. Em entrevista ao Congresso em Foco, o parlamentar afirma que o lobby das empresas mineradoras é um dos entraves que dificultam a tramitação de projetos dessa pauta. Ele ainda defende que o crescimento das ações de prevenção acontecerá quando aumentar os repasses obrigatórios para área. "Quando a gente vai tramitar esses processos lá, logicamente enfrenta um lobby bastante poderoso de grupos minerários, de lobistas, de pessoas que detêm valores com potenciais milionários. E muitas vezes, deputados, parlamentares e outros atores estratégicos que infelizmente acabam cooptados por essa relação", diz o deputado. O custo adicional e a necessidade de processos mais cuidadosos são consequências dos projetos que estabelecem diretrizes mais rígidas de segurança do setor. Por este motivo, afirma o congressista, as empresas dificultam o avanço das pautas. Apesar da força do lobby para frear tais projetos e a polarização no Congresso entre ambientalistas e não ambientalistas, Pedro Aihara argumenta que a questão da prevenção transcende o debate por se tratar da proteção da vida. "Eu entendo que haja uma polarização entre ambientalistas e não ambientalistas, a bancada do agro e outras bancadas. Mas aqui é algo muito sério, a proteção da vida. E os projetos de lei e as alterações que a gente propõe são justamente no sentido de tornar as atividades mais seguras. Ninguém pretende acabar com a mineração ou com outra atividade que eventualmente seja de risco. Mas entende que deve se desenvolver dentro de padrões muito rígidos de segurança", explica Pedro Aihara. ResponsabilizaçãoO deputado mineiro conta na entrevista que a decisão de entrar na política veio com o apoio da população de Brumadinho para ser representante da prevenção de desastres e da responsabilização dos culpados. "Se a gente não fizer nada agora, além de não responsabilizar quem tem sangue nas mãos, a gente abre um precedente para que um outro desastre aconteça", resume o congressista. A responsabilidade empresarial, segundo Pedro Aihara, ainda tem muitos obstáculos para acontecer de fato no país. Um exemplo lembrado por ele é o ex-presidente da Vale Fábio Schvartsmann. A ação criminal contra o executivo por homicídio qualificado e crimes ambientais está suspensa desde março de 2024, após a Justiça Federal conceder habeas corpus para Fábio. "A gente não pode achar normal ter um assassinato em massa, 272 pessoas morreram devido à negligência criminosa de pessoas que agiram por interesse econômico", protesta o deputado. Ele cita também que esta "tragédia-crime" evidencia que não se trata apenas de violação ao meio ambiente, com o Rio Paraopebas, mas contra vidas. Em relação às famílias das vítimas, existem projetos de lei do deputado que tratam da saúde mental dos que ficaram. Pedro Aihara diz que a impunidade é "uma morte a conta-gotas, que cristaliza a injustiça e mata psicologicamente os familiares". De acordo com o congressista, o quadro depressivo de familiares se agravou por este motivo. Orçamento para desastresEstudo do Greenpeace Brasil com base no Orçamento Federal, de 2015 a 2025, mostrou que neste período, apenas 3,28% do orçamento federal foi usado para projetos de monitoramento e mitigação. Enquanto as ações de defesa civil, que contemplam resposta a desastres, receberam 37%. Para o deputado, os dados se explicam "porque a prevenção de desastres não dá votos, não elege ninguém". Ele diz que o combate ao desastre quando acontece, infelizmente, é o que gera comoção. "Como em termos de entrega política [a prevenção] tem um apelo muito pequeno, isso via de regra é preterido por uma decisão que é política, em primeiro lugar. O estado de uma forma geral escolhe ser omisso em detrimento de politicagens. A forma de combater isso é estabelecer necessidade de repasses obrigatórios e a criação de fundos", afirma. Nesse sentido, a vinculação de verbas obrigatórias para a parte de prevenção de desastres e o fortalecimento do Fundo Nacional para Calamidades Públicas, Proteção e Defesa Civil (Funcap) são algumas das medidas possíveis. Pedro Aihara também argumenta que o investimento em políticas de prevenção geram uma economia no combate dos desastres quando acontecem. Outro ladoEm relação às afirmações do deputado sobre o lobby das mineradoras, a reportagem contatou o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) para ouvir o posicionamento do setor. O instituto afirma em nota que "não exerce qualquer ação contra projetos voltados a proteger a vida" e assegura que as recomendações têm sido adotadas. A atuação do Ibram no Congresso, conforme o posicionamento oficial, restringe-se "a argumentar com parlamentares para que propostas legislativas que prejudiquem a sustentabilidade dos negócios possam ser amplamente discutidas". Veja a íntegra da nota:O rompimento da barragem em Brumadinho gerou muitas lições ao setor mineral. O fato e suas consequências permeiam o planejamento e a tomada de decisão nos empreendimentos do setor, de modo que isso jamais se repita.O IBRAM esclarece que não exerce qualquer ação contra projetos voltados a proteger a vida. Muito pelo contrário. As recomendações encaminhadas ou determinadas pelas autoridades para reduzir os riscos de segurança têm sido adotadas.As ações junto ao Congresso, especificamente, se restringem a argumentar com parlamentares para que propostas legislativas que prejudiquem a sustentabilidade dos negócios possam ser amplamente discutidas.Em resposta ao rompimento, o IBRAM e as mineradoras associadas têm realizado uma série de investimentos e ações concretas em prol de maior segurança às operações industriais, às pessoas e ao meio ambiente, o que é reportado publicamente pelo IBRAM e pelas mineradoras.Especificamente sobre barragens, o IBRAM organizou entrevista coletiva para reportar situação atualizada sobre segurança dessas estruturas. Esta é uma ação que se repetirá periodicamente. O IBRAM também está à frente do projeto de aplicativo para celulares PROX. O PROX é um app desenvolvido pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Em parceria com o IBRAM integrou o sistema com as empresas de mineração, visando melhorias principalmente nos procedimentos de comunicação de risco, informando dados atualizados sobre a situação das barragens.