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Congresso em Foco
8/7/2012 8:00

O diretor teatral Luís Artur Nunes, que concluiu tese de doutorado sobre o teatro rodrigueano, afirma que Nelson revolucionou a dramaturgia no sentido de propor novas narrativas dramáticas, rompendo com estruturas tradicionais e explorando histórias não-lineares.
Em Boca de Ouro (1959), por exemplo, o escritor investe em uma estrutura inovadora, com três versões diferentes da mesma história. “O plano da memória aparece muito na obra de Nelson Rodrigues, com narrativas que vão e voltam no tempo”, explica Nunes.
No caso de Vestido de Noiva (1943), sua segunda peça de teatro, ele mistura o plano da memória, da alucinação e da realidade. “Quase tudo é delírio. Em teatro brasileiro, isso era radicalmente novo e singular”, complementa Fernando Marques, professor do departamento de Artes Cênicas da UnB.
O professor, que fez mestrado com foco na obra de Nelson, também lembra de como Nelson inovou ao levar para o teatro a linguagem coloquial. “Outros autores já tinham tentado trabalhar com a linguagem coloquial naquela época, mas Nelson foi mais radical. Isso influenciou inúmeros dramaturgos que vieram depois”, afirma.
O escritor pernambucano também trouxe novos ares ao teatro brasileiro ao trabalhar com enredos que vasculham o inconsciente dos personagens. Amor e morte, temas freqüentes no trabalho de Nelson, quase não haviam sido explorados nos palcos do país até então.
“Nelson faz a denúncia do lado insano dos sãos e joga luz sobre aspectos neuróticos das pessoas consideradas normais”, diz Marques. “Algumas pessoas se sentiram retratadas no que elas têm de pior, o que chocou”, complementa.
Censura
[caption id="attachment_78846" align="alignright" width="238" caption="Alessandra Negrini como "Engraçadinha", na minissérie da TV Globo"]
Esse olhar agudo sobre a realidade brasileira e a realidade carioca – os costumes, os valores, a linguagem – já ficou claro em sua primeira peça, A mulher sem pecado (1941), e prosseguiu no espetáculo seguinte, Vestido de Noiva, o primeiro grande sucesso de Nelson nos palcos.
No espetáculo seguinte, no entanto, ocorreu o contrário. Álbum de família não foi bem recebida pela crítica. “Nelson Rodrigues recebeu avaliações arrasadoras e passou a ser um autor mal quisto naquele período”, relata Marques.
A peça foi censurada e só pôde ser vista pelo público mais de vinte anos depois. A censura ainda fez parte da vida do escritor, jornalista e dramaturgo por muitos anos. Nelson enfrentou o governo, a Igreja e a sociedade em diversos embates. Para Ruy Castro, o principal legado rodrigueano foi justamente a permanente luta pela liberdade de expressão.
“Nelson passou a vida sendo perseguido pela censura”, lembra Castro. “Hoje, a compreensão é muito maior. O país evoluiu e, finalmente, está chegando a Nelson”, conclui.
Luís Artur Nunes opina no mesmo sentido e acredita que poucos ainda fazem uma leitura rasa da obra de Nelson. “Hoje ele foi assimilado, estudado e entendido. Já não choca mais”, afirma.
Para o diretor teatral, as adaptações da obra rodrigueana para a TV e para o cinema contribuíram para dar mais acesso e compreensão ao seu trabalho, como a minissérie Engraçadinha – Seus amores e seus pecados, exibida pela Rede Globo em 1995. “Por ter ido tão longe no erotismo transtornado e atormentado, Nelson fez o sucesso que fez”, conclui Nunes.
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