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André Sathler
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11/12/2020 | Atualizado 27/7/2021 às 14:13
Maia e Bolsonaro na entrega da reforma da Previdência na Câmara em fevereiro de 2019. Foto: J. Batista/Ag. Câmara
Centrão atuou na Assembleia Constituinte. Foto: Cedi/Câmara
A tendência minguante das reformas no Legislativo pode se alterar se algum ator for capaz de manobrar estrategicamente as posições em todas as dimensões e, sobretudo, oferecer ganhos compensatórios para as perdas que algum grupo incorra. O caso concreto brasileiro teve como solução histórica o Poder Executivo: distribuidor de cargos, recursos orçamentários e também dividendos de imagem – uma reforma que traga melhoras para a economia e a população pode ter dividendos distribuídos entre presidente e parlamentares apoiadores.
Assim, um problema central para as reformas no Brasil hoje é a ausência desse ator capaz de coordenar as forças legislativas. Quando falamos do papel do Centrão nas reformas, o que está em jogo, portanto, é sua capacidade de ser propositivo e agregador para o sucesso delas, a despeito de, ou mesmo na ausência de, um ator externo ao Legislativo capaz de gerar ordem e agregação de posições.
O Centrão surgiu com seu perfil específico no processo constituinte de 1987-1988. Tratava-se – e hoje ainda se trata da mesma coisa – de partidos e parlamentares de fraca ou nenhuma postura propositiva, de ideologia rarefeita, conservadores no sentido genérico da palavra e sempre aliados da máquina pública. Na Assembleia Constituinte o Centrão foi definido sobretudo por sua capacidade de barrar transformações de cunho social e econômico vindas das forças à esquerda.
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Sarney, Lula, Dilma, FHC e Collor, os cinco ex-presidentes embarcaram com o Centrão. Mas nem todos se deram bem. Foto: Divulgação
As transformações realizadas pelo governo Fernando Collor, trágico em diversos aspectos, mas positivo na abertura comercial, ocorreram à revelia do Congresso ou foram entregues ao Legislativo como fato consumado.
O grande período de reformas constitucionais sob FHC se caracterizou pela clareza do Executivo quanto à agenda de transformação e a condução de sua base parlamentar sob os mecanismos clássicos do presidencialismo de coalizão: muita distribuição de cargos, emendas e também dividendos de imagem. Nessa parceria, o Centrão de FHC foi guiado pela aliança sobretudo de PSDB e PFL (atual DEM), imbuídos da agenda de reformas e que conduziram os colegas mais pragmáticos.
O governo Lula avançou com uma agenda de transformações infraconstitucionais. Uma vez mais o Centrão foi conduzido. Novamente a distribuição de recursos foi abundante (com o mensalão e o petrolão ganhando força como formas alternativas à prática tradicional), embora os cargos tenham permanecido majoritariamente com o próprio PT.
O governo Dilma seguiu o padrão anterior de Lula, mas se degradou sem maiores realizações. Foi como o esgotamento de uma forma de lidar com o Centrão.
O ex-presidente Michel Temer renovou um forte consórcio com o Legislativo, no qual o Centrão se acomodou. Inegável que havia um núcleo formulador em torno de Temer, composto por antigos aliados do presidente, e também diálogo permanente com os parlamentares. Se alguma transformação foi possível com Temer, como, por exemplo, o novo regime fiscal, com o teto de gastos, e a reforma trabalhista, foi porque esse grupo de partidos de centro-direita utilizou todo o capital político disponível nas relações entre Executivo e Legislativo.
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Temer teve no Centrão seu "consórcio legislativo" e aprovou teto de gastos e reforma trabalhista. Foto: Alan Santos/PR
Se aceitarmos aquilo que, para o Farol Político, é um fato, que o Planalto sob Bolsonaro demonstra fraquíssimo compromisso com as reformas, a alternativa remanescente para transformações hoje reside no protagonismo do Legislativo. Ou seja, no caso, passa necessariamente pelo Centrão.
Se listarmos três acontecimentos legislativos de monta, a reforma da Previdência, a aprovação do marco legal do saneamento e da autonomia do Banco Central (esta última, até o momento, apenas no Senado), podemos afirmar que a participação do Planalto foi a de sócio minoritário. O influxo para as mudanças veio mais das lideranças da Câmara e do Senado e da ação dos líderes do governo no Senado. Também, de forma alguma viu-se protagonismo inequívoco do Centrão.
Assim, ao falar da viabilidade atual das reformas, a pergunta que se coloca para a aliança Bolsonaro-Centrão não é sobre a existência de uma coalizão, mas sobre seu objetivo. Há coalizão? Mas, sobretudo, para quê?
O Centrão ao longo da história definiu-se como ator de veto, e sempre que participou de mudanças o fez a reboque de projetos de transformação externos a si próprio. Assim, seria agora o Centrão um ator propositivo, capaz de atuar para valer na realização das famosas reformas? Respostas afirmativas necessitariam passar por ambiciosos planos próprios e por uma ideologia transformadora, os quais são possíveis, mas acima de tudo consistiriam em uma novidade na Nova República.
Diante de maior controle do Centrão sobre o Legislativo, a história nos faria esperar apenas mudanças fragmentadas, pontuais, motivadas principalmente pelas necessidades imperiosas de alguma crise (fiscal, cambial, sanitária, etc.). Embora o futuro seja incerto, crises, infelizmente, parecem que não vão nos faltar.
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