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Vanda Machado
Iara Brandão
Vanda Machado
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25/12/2020 | Atualizado 10/10/2021 às 16:51
Sr. Antonio Machado ao piano
As criancas em festa de São Felipe
Dia 12, dia de armar o presépio. Chega o momento do ritual! As velhas caixas eram abertas solenemente e retirados Nossa Senhora, São José, o Menino Deus, os Reis Magos. O anjo vestido de um azul bonito e brilhante trazia uma faixa acima da cabeça com a inscrição: Gloria in Exelsis Deo; os pastores, carneirinhos e os bois, que aqueceram com seu bafejo o Menino na noite fria do seu nascimento. O presépio estava pronto. Até as latinhas plantadas com milho já estavam no lugar, até o Natal estaria todo nascido. Todo verdinho. As folhas de pitanga e o jasmim só na véspera. Dava gosto acordar cedinho e ir buscar na Fonte do Povo. De longe, era possível sentir o perfume das flores branquinhas regadas pela luz da lua.
No final da tarde, Antônio Santeiro, meu pai, me chamava para perto do piano e tocava, cantava e repetia algumas vezes o Adeste Fideles, o mais lindo canto do Natal:
Adeste fideles laeti triumphantes
Venite, venite in Bethlehem
Natum videte regem angelorum
Venite, adoremus,
Venite, adoremus,
Venite, adoremus, dominum!
Eu estava pronta para cantar na Missa do Galo!
Antônio Machado, ou Antônio Santeiro, fez teatro com jovens da Liberdade com Padre Sadock e levou toda a experiência para os jovens de São Felipe, incluindo músicos pretos para o coral. Reunir pessoas estava além das subjetividades e da mitopoética do Natal. O ano inteiro ele ensaiava o coral para a festa de São Felipe, entremeado de outros agrupamentos festivos onde se exercitava a arte.
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Coral de São Felipe e Sr. Antônio Machado
Noite de Natal chega em casa e nas ruas da cidade... Tudo que foi pensado vai acontecer: o desfile pelas principais ruas da cidade, o tema do baile pastoril estava perfeito. Foram ensaiados os cantos do Natal e o bailado nas ruas. O teatro no tablado, na porta da igreja, só esperava a hora.
Figurinos e lanternas arrumados e a orquestra também. Os músicos chegando para acompanhar o cordão. Até hoje ouço a pergunta: Onde Antônio Santeiro aprendeu tanta coisa?
Creio que a vida foi sua melhor escola. Antônio Santeiro só viveu 35 anos. Um câncer no estômago o levou para a ancestralidade. Minha mãe tinha 27 anos e 5 filhas. A menor tinha 9 meses. Eu tinha 11 anos quando minha mãe declarou: Aqui não tem mais presépio! Vendeu o piano e a coleção de discos. E eu herdei uma vigorosa história de confiança, alegria e cuidado com a vida. Minha mãe fez a sua viagem ancestral cinco anos depois, quando me tornei mãe de minhas quatro irmãs e de mim mesma. O próximo Natal aconteceu quando eu me casei e reuni minhas irmãs, no mesmo ano em que nasceu a Escola Joana D’arc, na Rua do Vale n.16, no Subúrbio de Paripe, com a metodologia hoje consolidada como tese de doutorado editada no livro Pele da Cor da Noite.

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