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Vanda Machado
Iara Brandão
Vanda Machado
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24/6/2021 | Atualizado 19/1/2022 às 18:02
Vanda e sua mestra, Mãe Detinha de Xangô
As vivências do povo de santo se plasmam nos confins de um mundo arcaico instaurado pela ancestralidade magnificada no seu caráter essencial e numinoso. Compreendemos, então, que o mundo em que vivemos é uma realidade oriunda também de nossas próprias percepções, que estão na razão dos sentimentos humanos numa implicação do além do vivido. Com efeito, a nossa consciência apenas reflete à maneira de um espelho a luz originária do que percebemos. Pertencemos ao mundo de intensas possibilidades criadoras. Mundo que nos contém e que nos enche das suas mais diversas formas de energias vitais e interdependentes como uma trama que produz a si mesmo.
Estamos falando de eventos que acontecem num espaço-tempo multirreferencial em que o estado e os movimentos dos corpos materiais e a distribuição desses corpos determinam configurações míticas envolvendo a invariância da matéria em suas transformações que afetam vivências e o imaginário. Neste sentido, os rituais, presentes na comunidade, sintetizam momentos importantes de todos os tempos que constroem as pessoas e a comunidade.
O passado jamais segue o ser, mas o precede. É o passado que, caminhando na frente, vai adaptando-se à realidade do presente como tradição. Pensando deste modo, estamos diante da complexidade de uma perspectiva dialógica. A matéria e o espírito se reconhecem e formam uma unidade não linear num processo dinâmico repleto de subjetividades.
Por outro lado, entendemos que a ciência convencional sempre buscou eliminar a subjetividade das suas explanações o que dificultaria compreender a nossa própria subjetividade como objeto científico. Aí é que estabeleço um mergulho em mim mesma e na minha comunidade no seu aspecto mais arcaico e paradoxalmente atualizante. Mergulho e, ao emergir, trago um outro tempo repleto de novidades que só podem ser consideradas como transitórias.
E por não se tratar de recair em crenças puramente mágicas, a educação inspirada nas subjetividades deste imaginário é mitopoética e polissêmica. Esta é uma condição que sugere a fluidez, a descristalização e a transgressão do modelo cultural instituído, fechado no assujeitamento de pensamentos lineares. Por analogia, o que prefiro chamar de feitura ao invés de iniciação é por entender que esse é o momento de se fazer a cabeça, preparando aquele que está sendo feito para aprender a aprender.
Neste caso, cada um estaria voltado para a sua melhor forma de aprender na vida e no caminho da emoção de cada dia. Aprender na vida também como poesia. Aprender descobrindo novas estruturas internas. Aprender percebendo o extraordinário no cotidiano. Aprender, nesta condição, seria preparar-se para viver o cotidiano na sua complexidade criadora gestando novas sensibilidades e sentidos.
Viver no terreiro, sendo feita ou não, é estar pronto para construir seus saberes a partir de um novo espaço interno. Um espaço vivo e estimulado para aprender com todos os acontecimentos. A aprendizagem inclui atos celebrativos que estimulam e agregam tudo que dá vida à vida comunitária. As educadoras da Eugênia Anna passaram por esta experiência vivenciando as possibilidades de compreender o mundo como algo que se move dentro e fora de nós mesmos. É um lançar-se além de si para o encontro de outras vivências, outras leituras e da compreensão de outros códigos experienciais. No Afonjá, vive-se um mundo africano tradicional onde tudo existe em potência. Tudo está para acontecer ou dissipar-se. Vive-se o mundo das potencialidades.
Referências:
[1] Mundo espiritual
[2] Mundo natural
[3] Árvore considerada sagrada para os iorubanos. No Brasil foi substituída por gameleira branca.
[4] História mítica adaptada por Vanda Machado para formação de educadoras e educadores da Rede Municipal de Educação em Salvador
[5] Linguagem usual para pessoa que passou pela experiência de fazer o santo, fazer a cabeça, se tornar omo orixá, filho do orixá ou iniciado como se diz na linguagem antropológica.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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