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6/7/2021 | Atualizado 10/10/2021 às 16:05

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Olurum convidou Xangô para debater um tema que o incomodava bastante, especialmente depois que recebera a visita de Tupã e Sumé. Os seus amigos queriam saber do orixá o que ele pensava sobre a responsabilização de um cacique por atos praticados coletivamente por ele e vários integrantes de sua comunidade. O caso narrado tinha relação com a descoberta de que a liderança indígena negociava com alguns garimpeiros que, gananciosa e ilegalmente, destruíam a Floresta Amazônica em busca de outro. Tupã e Sumé divergiam sobre a punição, dizendo o Senhor dos Trovões que queria uma punição individualizada para o cacique, transformando-o, como já fizera no passado, em uma tartaruga jurará-açu. Sumé achava que a punição deveria ser coletiva, nela incluindo a  parte da comunidade que fora cúmplice do futuro réptil. Elegantemente vestido em trajes marrom e Vermelho, Xangô chegou pontualmente. Tirou as botas que portava e, descalço, ingressou no terreiro de Olurum. Cumprimentou Emanuel, Jaci e Oxalá que conversavam animadamente, com um sonoro “saravá”. Deixou o seu reluzente oxê de duas lâminas viradas em direções opostas sobre um altar e se aproximou de Olurum. –  Kaô kabelicê! – cumprimentou Olurum o convidado que acabara de chegar. – E que a Justiça sempre o acompanhe! – Olurum me convocou e já estou aqui  – retribuiu Xangô, com a sua sábia modesta. – O que meu pai maior quer deste simples orixá? – Quem é rei nunca perde a majestade – sorriu Olurum. – Queria saber de sua opinião sobre uma questão levantada por Tupã. A quem devemos punir diante de crimes cometidos de forma generalizada? O líder? Ou todas as pessoas que o seguem e apoiam? –  “Quem deve paga e quem merece recebe” – respondeu, de pronto, Xangô. – Eu mesmo já ordenei condenações coletivas, assim como responsabilizei individualmente alguns reis. – Ótimo! Teremos muito o que conversar – exaltou Olurum, afastando-se com Xangô dos amigos, que, curiosos, estavam atentos à conversa e aos ensinamentos que dela poderia extrair. – Acho que o povo brasileiro logo precisará resolver um dilema como esse que nos trouxeram Tupã e Sumé. – Eẽ koîpó aã?  Eles foram embora e nos deixarem sem respostas! – exclamou Jaci, arrancando uma sonora gargalhada em seus amigos. – Será que eles não querem conversar aqui para que Oxalá não faça a defesa das criaturas que criou? –  O que vocês acharam do debate proposto por Tupã a Olorum? – despistou  Oxalá, para logo refletir sobre o tema em forma de perguntas. – Diante de um crime apoiado pela sociedade, a culpa é do líder ou da coletividade? O nazismo foi um bloco do eu sozinho? O fascismo? O genocídio do meu povo? As mortes evitáveis? O “eu” ou o “nós”? De quem é a culpa? – Tem razão, Oxalá! A batalha em sociedade não é como um ringue em que o resultado da luta depende do talento individual do combatente – concordou Emanuel. –  A análise do comportamento individual nos atos coletivos é muito mais complexo. – Mas não querer ouvir o que as vozes dizem com clareza, não é o mesmo que dar um falso testemunho para o seu próprio coração? – interrogou Jaci. –  É uma boa interpretação do IX Mandamento – refletiu Emanuel. – Ela me fez lembrar do que Lucas escreveu: "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!" –  Recusar-se a ouvir o óbvio é dar, conscientemente, ouvidos aos espíritos obsessores que querem comandar a sociedade – concordou Oxalá. – É cômodo não se sentir culpado por ter escolhido mal, apoiado ou se omitido quando se sabia do caráter da liderança. Especialmente persistir no erro quando se sabe errado. –  A sua observação se torna clara quando a pessoa sabe que a liderança nunca escondeu o que pensa da humanidade, que não foi omissa ao revelar os seus ódios ou que nunca teve receio de externar o seu desapego à verdade – reforçou Jaci. – Se eu fosse Xangô, diria a meu Pai que Sumé tem razão ao apontar a cumplicidade da parte da comunidade que apoiou o cacique traidor da floresta. – Não é fácil punir! Meu Pai disse em Hebreus, que “Na verdade, toda correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza” – opinou Emanuel, para logo concluir. – “Mas, depois, produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela”. –  Essa é uma verdade absoluta! – concordou Oxalá. – O futuro dos que comentem crime contra a humanidade tem relação direta com o tratamento que se dá a eles no presente. Punir também é ato de sobrevivência. – Emonã-temõ…mã!  –   suspirou Jaci, logo percebendo que Xangô voltara ao terreiro e, não contendo a sua curiosidade, faz ao orixá a pergunta que não queria calar. – Eẽ koîpó aã? –  Sim ou não? Sobre o quê, minha Oshupá?  –  perguntou Xangô, sem saber que o resultado de sua conversa era aguardado com curiosidade. –  Ora pois, Xangô! – sorriu Jaci. – Sobre o conselho que vocês darão a Tupã. Quem deve ser condenado: o “eu” ou o “nós”? –  Ora pois, minha Oshupá! Daí a Tupã o que é de Tupã!  –  respondeu sorridente, Xangô, enquanto ajustava o seu machado à cintura. – Ele e a história saberão julgar os culpados! O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected]. > Leia mais textos do autor.   Se você chegou até aqui, uma pergunta: qual o único veículo brasileiro voltado exclusivamente para cobertura do Parlamento? Isso mesmo, é o Congresso em Foco. Estamos há 17 anos em Brasília de olho no centro do poder. Nosso jornalismo é único, comprometido e independente. Porque o Congresso em Foco é sempre o primeiro a saber. Precisamos muito do seu apoio para continuarmos firmes nessa missão, entregando a você e a todos um jornalismo de qualidade, comprometido com a sociedade e gratuito. Mantenha o Congresso em Foco na frente.
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