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"Pois eu tive fome, e vocês não me deram de comer". Coluna de Cezar Brito traz a falta de acesso a alimentos que aflinge o Brasil.

Cezar Britto

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24/10/2021 | Atualizado 27/12/2021 às 15:17

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– Estou muito preocupado com as coisas que estão acontecendo no Aiyê – externou Oxalá, para a sua amiga Jaci. – Exu me contou que a fome está se espalhando rapidamente de forma nunca vista. –  Exu, com a aquela boca que come tudo, bem entende da sensação da fome incontrolável – respondeu, descontraída, Jaci. – O que ele contou para você, meu orixá? – Ele me contou que as pessoas estavam fazendo filas nas lixeiras dos açougues, na esperança de encontrar algum osso que contenha algum resquício de carne – esclareceu Oxalá. – O Brasil que se gaba de ter os maiores rebanhos de bovinos do mundo, não consegue reservar um pequeno pedaço para o seu povo. – É tudo para exploração e exportação – lamentou Jaci. – As caravelas que partem da nossa Pindorama sempre exportaram as nossas riquezas e nos deixam com as migalhas. Mudaram os séculos, as pessoas e até os meios de transporte, mas o povo segue excluídos das coisas criadas por Tupã. – Triste realidade, minha Oshupá – concordou Oxalá. – O país campeão em exportação de proteínas, não deixa nada para o consumo das pessoas que mais delas necessita. – “Pois eu tive fome, e vocês não me deram de comer; tive sede, e vocês nada me deram para beber; fui estrangeiro, e vocês não me acolheram; necessitei de roupas, e vocês não me vestiram; estive enfermo e preso, e vocês não me visitaram” – recitou Emanuel, quebrando o silêncio em que se postara. – Ere-îkó-katu-pe? – espantou-se Jaci. – Não entendi nada. –  A-îkó-katu – respondeu, Emanuel, também em tupi. – A conversa de vocês me fez lembrar em voz alta de uma conversar que tive com Mateus. – Ah, bom! – sorriu Jaci. – Eu pensava que você não estava bem. – E como ficar bem diante da fome na “terra em que se plantando tudo dá”? – respondeu Emanuel. – Ainda mais quando a fome não é por falta de comida, mas porque as pessoas não nos dão o que comer ou beber. – É mesmo um absurdo o que estão fazendo, não é? – interrogou Jaci. – Mesmo Sumé, com toda a sua sabedoria divina, um dia perdeu a paciência com nossas imperfeitas criaturas. – Exu ficou impressionado com a mensagem negativa que recebeu nos terreiros. E não é só o desprezo dos que trocam o verde do campo pelo verde dos dólares – arrematou Oxalá. – Não é que os comerciantes que jogavam os ossos descartáveis no lixo, agora resolveram vendê-los, sem dó ou piedade? – E não apenas os ossos. Eles estão vendendo a carcaça de galinha que também era lixo – complementou Jaci. – Colocam trancas nas carnes dos supermercados ou até expõem caixas vazias com o nome carne, em que esta somente poderia ser vista depois que paga. – Não querem que o desespero da fome possa atrapalhar o lucro – constatou, revoltado, Oxalá. – Não estão satisfeitos com os manuais e os códigos secretos que orientam a violência e as prisões de meus irmãos e irmãs que se aproximam desses Templo de Consumo? – É a criminalização da fome e da pobreza, meu amigo! – complementou Jaci. – O meu povo sofre dessa azaração desamorosa desde 1500. – Não sabem eles que até mesmo “O ladrão não é desprezado, se, faminto, rouba para matar a fome”? – voltou a refletir Emanuel. – Mesmo dizendo que “Deus está acima de tudo”, eles já não ligam para os provérbios de seu Pai, Emanuel – registrou Oxalá. – Xangô me contou que até prenderem uma mãe que subtraíra alguns alimentos para matar a fome de sua prole. – Veja a dificuldade orçamentária alegada quando se trata de fixar um auxílio financeiro para quem tem fome – retomou Jaci. – Sobram recursos para os banqueiros, os rentistas, os especuladores, os que têm verbas aplicadas em paraísos fiscais, as emendas parlamentes e os capitalistas de sempre. – Estou pensando em pedir autorização à Olorum para criar uma humanidade diferente da que criamos – refletiu Oxalá. – Já conhecemos os nossos erros. E podemos aperfeiçoar as virtudes. – Tupã t’-o-ikó nde irũnamo! – abençoou Jaci. – E você, Emanuel? – Nem mesmo o Filho sabe dos quereres do Pai – respondeu Emanuel. – Mas Ele já disse em Efésios que “A nossa luta não é contra os seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais”. O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected]. > Leia mais textos do autor
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