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Joao Batista Oliveira
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22/6/2022 | Atualizado às 11:51
Os nossos melhores alunos – os 10% melhores – situam-se abaixo da média dos alunos de um país europeu. Os nossos professores são recrutados entre os 50% alunos com piores notas no ENEM. Raras são as redes de ensino que produzem resultados superiores ao que seria de se esperar com base no nível socioeconômico dos alunos, ou seja, é baixíssimo o valor agregado. Trata- se de um sistema caro, medíocre, perverso e que amplia as desigualdades sociais.
Ao mesmo tempo o país se encontra diante de uma janela de oportunidade que está prestes a se fechar: a população que demanda escolas está diminuindo. Passamos de coortes de 3,5 milhões no início do século para 2,7 milhões atualmente, e, pelas projeções do IBGE, deveremos chegar a 2,1 milhões nos próximos 40 anos. Isso significa menos alunos, necessidade de menos escolas e de menos professores.
Ao mesmo tempo um contingente expressivo – quase metade – dos professores que poderá se aposentar nos próximos anos. Se foram repostos por professores do mesmo nível, vamos congelar os problemas atuais por mais quarenta anos. Esta poderia ser uma oportunidade para o país repensar suas políticas educacionais a partir do seu componente mais valioso – o professor. Essa grande redução demográfica que se encerra nesses próximos 5 a 10 anos também seria uma oportunidade para repensar questões de infraestrutura e divisão de trabalho entre duas redes estaduais e municipais de ensino, que contribuem para aumentar as ineficiências do setor. Se combinadas com políticas diferenciadas para contemplar as características de municípios pequenos, médio e grandes essas duas variáveis poderiam abrir o caminho para implantar novas escolas com nova estrutura, regras de funcionamento e, sobretudo, professores com melhores condições.
Mas isso não basta – são ações estruturais fundamentais – mas cujo êxito depende de avanços no entendimento de como funciona a educação e do que é necessário para fazer uma escola funcionar.
O que funciona e faz melhorar a educação é o que acontece na sala de aula. E o que acontece na sala de aula depende de 3 fatores principais. O primeiro deles é um currículo adequado – o que o Brasil não possui. Sequer possui o entendimento do que seja um currículo adequado – como ficou patente no processo e na sua resultante – a BNCC (Bases Nacional Curricular Comum). Para a educação avançar é necessário um currículo com cara de currículo, elaborado de maneira adequada, por pessoas do ramo. Trata-se de uma especialidade que requer o concurso de especialistas, não o clamor da galera. No caso do ensino médio são necessários currículos efetivamente diversificados e também escolas diversificadas – com vocação acadêmica ou profissional – conforme o caso. Ao lado do currículo, é necessário estabelecer mecanismos adequados de avaliação. Isso o Brasil sabe fazer bastante bem, há instituições especializadas e capazes. Mas não está sendo feito – e, se elaborado com base na BNCC, não levará a grandes avanços.
Um terceiro componente são os materiais a serem usados nas escolas. A centralização da produção de materiais resultante das políticas do PNLD levou à elaboração de livros de baixa qualidade pedagógica – se comparados com livros didáticos de países educacionalmente mais avançados. A multiplicidade de exigências eliminou o autor – o livro ficou sem autoridade e sem consistência – o objetivo dos editores é passar nas centenas de critérios dos avaliadores. Tudo isso é absolutamente desnecessário – hoje existem tecnologias que mudaram o conceito de economias de escala na produção de livros didáticos, da mesma forma que existem sistemas de logística que dispensam e superam de longe a capacidade operacional de um governo central.
E finalmente, a sala de aula. Se há um currículo, uma avaliação, materiais adequados e um professor responsável e responsabilizado para ensiná-lo, há chance de melhorar a aprendizagem dos alunos. O alinhamento é essencial, mas não basta consistência: é necessário que o material didático seja adequado ao currículo e aos alunos e que o professor seja capaz de utilizá-lo, utilizando protocolos adequados de ensino.
Protocolos adequados de ensino. Médicos e pilotos – para dar apenas dois exemplos – são profissionais nos quais confiamos em situações de vida ou morte. Eles seguem rigorosamente protocolos. Em educação existem evidências robustas sobre o que funciona ou não na sala de aula. Mas esse conhecimento não faz parte do repertório da cultura educacional brasileira – a ideia de protocolos é explicitamente rechaçada pelas instituições que formam nossos professores – tudo em nome de uma suposta e ilimitada “autonomia”.
Revogar e ajustar algumas leis poderia criar espaço para avanços na educação. Mas mesmo na ausência disso há conhecimentos e experiências, inclusive no Brasil, que permitiriam ao governo federal e aos novos governadores imprimir, a curto prazo, avanços significativos na aprendizagem dos alunos. E, havendo descortínio, criar condições para avanços ainda maiores e sustentáveis a longo prazo – se aproveitarmos o bônus demográfico para criar novas carreiras e formas de acesso ao magistério – sem passar pelo formalismo inócuo e perverso das faculdades de educação.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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